terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INTOLERÂNCIA À FALTA DE LACTOSE

Uma certa dose de desconfiança nunca fez mal a ninguém.

Foi justamente por questionar se sair da caverna para abraçar aquele tigre dentes-de-sabre fofinho era de fato uma boa ideia que nós estamos aqui hoje.

Mas não gosto quando a desconfiança se torna excessiva e não vem acompanhada de um mínimo de embasamento científico.

Por exemplo, o que acontecia com o Nick.

No primeiro ano de vida, ele foi alimentado com leite materno.

Era muito simples detectar os momentos em que ele achava ser adequado que a Carla desse de mamar: ele URRAVA DESCONTROLADAMENTE com os olhos jorrando lágrimas até que fosse atendido.

E toda manhã era assim. Era só ele acordar que lá viam os berros inconsoláveis de fome. Não havia nada que a Carla pudesse falar no curto trajeto entre nossa cama e o berço dele que aplacasse sua ira pela indesculpável demora no atendimento da garçonete-mãe.

Com o tempo, a mamadeira substituiu o peito e a locomoção bípede substituiu a incapacidade de se mexer que o prendia ao berço. Mas os gritos enfurecidos perduravam.

Toda manhã, durante 2 ANOS E MEIO, o ritual se mantinha: o Nick acordava e percebia subitamente que não havia o “tetê” dele NA SUA BOCA, justificando com isso uma explosão de gritos e choro compulsivo, provavelmente passando a todos nossos vizinhos a impressão de que nós o acordávamos com ferro em brasa.

Um dia, minha paciência se esgotou com a falta de tolerância dele (perceberam a ironia da frase?)

Ele veio se arrastando aos urros de “TETÊ! TETÊ! TETÊ!” até nosso quarto, e eu o peguei pelos braços, olhei profundamente nos olhos dele e falei, num tom duro e autoritário:

“Nick! Nos últimos NOVECENTOS E DOZE DIAS da sua vida, todos os dias – TODOS os dias – sempre demos o seu leite quando você acordava! Então POR QUE você está chorando? Me explica! Me dá UM ÚNICO MOTIVO para você chegar à conclusão de que JUSTAMENTE HOJE, a gente iria DEIXAR VOCÊ PASSANDO FOME?! HEIN?!”

Ele parou de chorar na hora, me fitando com olhos arregalados e a boca aberta.

Neste breve momento, percebi que o choro havia parado porque ele finalmente havia entendido que essas duas pessoas que estavam ao seu lado não eram apenas pessoas – eram seus PAIS.

Havia percebido que nós nunca permitiríamos que ele passasse por qualquer necessidade, o que tornava qualquer demonstração de desespero matinal em algo fútil, desnecessário.

Ele estava amparado. Protegido por duas pessoas que o amavam, e o amariam sempre, acima de tudo e de todos.

Seus olhos, ainda encharcados pelas lágrimas, tornaram esta conexão entre pai e filho em um momento ainda mais especial, e meu peito se encheu de orgulho e emoção.

Mas é claro que ele foi se esvaziando rapidamente à medida que o Nick, recuperado do susto da bronca, voltava aos seus estridentes e ensurdecedores gritos de “TETÊ! TETÊ TETÊ!”

sábado, 4 de dezembro de 2010

BEBÊ DE BRINQUEDO

Esta aí na foto é nossa sobrinha de 3 meses, que passou uns dias lá em casa semana passada. Eu tinha muita curiosidade de ver como os dois lidariam com um bebê morando dentro do território DELES.

Mas foi incrivelmente tranquilo. Talvez pela calma e tranquilidade quase sobrenaturais que a menina demonstrou durante o período todo, os dois demonstraram muito afeto por ela.

Para se ter ideia, o Tony até se aventurou em trocar as fraldas dela (mas isso merece um post exclusivo - aguardem mais alguns dias).

Aí teve um dia em que estávamos na cozinha e pedimos para que os dois ficassem de olho na garotinha, e a deixamos tal qual a foto acima.

Só que é claro que alguns minutos na cozinha já foram suficientes para que ouvíssemos risadinhas histéricas – e contidas – vindas da sala.

Fomos sorrateiramente até a porta para ver o motivo de tanta alegria, sabendo melhor que ninguém que boa coisa nunca é, e nos deparamos com a seguinte cena:



Bom, pelo menos ninguém pode culpá-los de não ter brincado com a prima...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

QUANDO O PAI MERECE UM CARTÃO VERMELHO

Memória de criança é um troço complicado, porque eles lembram de absolutamente TUDO. Um exemplo é o que aconteceu comigo hoje depois do jantar.

Como o fim do ano letivo se aproxima, muitos dos livros e cadernos que acompanharam os molex na escola já encontraram seu caminho até nossa casa.

Isso significa que nós, pais participativos, devemos sentar com os dois e ver página por página tudo que eles fizeram ao longo de 12 meses de escola.

Em um dos livros, vi uma foto de um jogador de futebol vestindo um calção azul e camisa e meias verdes. Comentei com o Tony que parecia o uniforme do meu time no Pro Evolution Soccer, aquele jogo de futebol no Playstation e computador em que tudo é personalizável, do nome dos jogadores ao uniforme da equipe (já abordamos este assunto neste post aqui)

Jogador assíduo de Pro Evolution Soccer, o Tony concordou imediatamente com meu comentário. Depois, olhou para a foto um instante e se virou para mim dizendo, num tom contemplativo:

“Hm... it can be BOSTA HUMANA”

Em choque, perguntei a ele o que ele tinha dito, e imagino que minha expressão deixou claro que ele havia falado algo indevido, porque ele na hora tratou de esclarecer.

“O nome do seu jogador! O nome do seu jogador!”

Aí lembrei que, quando montei a equipe, dei nomes “engraçadinhos” para os jogadores e que “Bostumana” tinha sido um deles.

Só que os molex não estavam juntos comigo na hora em que editei a equipe (fiz como piada pro sobrinho da Carla, que estava lá) e evidentemente o locutor do joguinho não avisa que o “BOSTUMANA” está com a bola. Então pensei que não havia risco desta brincadeira FEIA chegar até meus filhos.

Só que, durante alguma partida, em algum momento, alguém deve ter comentado o nome dele... e isso foi o suficiente para fixar na memória do Tony o nome do sujeito como algo emblemático do time que seu pai criou.

Tanto que ATÉ HOJE ele lembra disso.

Fiquei imaginando se ele já não usou o termo na escola, de repente até com a professora, mas como não fui chamado pela diretoria para prestar depoimento, acho que felizmente não foi o caso.

Lição que aprendi com isso: você pode se esforçar o quanto quiser para ensinar a seus filhos apenas o que é bom, digno e politicamente correto, mas no fundo isso não importa. Porque se eles tiverem um único pedacinho de informação que tenha o potencial de colocar você em maus lençóis, pode ter certeza de que é ISSO QUE ELES VÃO GUARDAR PARA TODA A VIDA.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A LISTA DE TONY

Ontem estávamos discutindo o Natal e, mais importante, a famosa CARTA AO PAPAI NOEL.

Com menos de um mês até a data, achei que seria prudente ao menos imaginar o que os dois esperam ganhar do bom e gorducho velhinho, então pedi que me esclarecessem.

O Nick disse que estava cansado e que falaria comigo hoje (não falou).

Já o Tony pegou um papel e pediu uma caneta para escrever a sua LISTA DE NATAL.

A seguinte conversa se desenrolou:

"Lista?"
"Sim. A lista de coisas que eu quero para o Natal."
"Mas... ehm... você sabe que o Papai Noel não dá um monte de coisas, mas UM presente, né?"
(breve silêncio)
"Hm... ok... ah! Já sei!"
"O quê?"
"Eu faço a lista e depois eu coloco um 'X' nas coisas que eu NÃO quero."

Por mais que eu ache louvável a atitude do Tony de não sobrecarregar o pobre Papai Noel com presentes que ele não queria ganhar mesmo (vocês podem ler um pouco mais sobre o que cada Natal significa para o Bom Velhinho neste post aqui), confesso que o comentário do Tony me deixou com uma pergunta até agora sem resposta:

Em vez de perder um tempão escrevendo uma lista enorme para depois marcar com 'X' as coisas que ele não quer... por que não SIMPLESMENTE ESCREVER UMA LISTA SÓ COM COISAS QUE ELE REALMENTE QUER GANHAR?

terça-feira, 23 de novembro de 2010

DANDO A MÃO À PALMATÓRIA

Devo a todos os leitores um pedido de desculpas e algumas satisfações pela gritante falta de posts aqui no blog.

Antes de mais nada, não, o blog não morreu e nem vai ser desativado. O que ocorre é que passei por uma fase muito conturbada de trabalho que acabou me impedindo de dar a este humilde blog a atenção que lhe é sua por direito.

Preferi a ausência a um post "meia-boca" e, como que por ironia do destino, o blog acabou ficando congelado justamente na ilustração da teia de aranha abaixo.

Mas, aos que sentiram falta, alegrem-se porque em breve retornaremos às atividades normais e vocês poderão se divertir aqui com outras aventuras e desaventuras dos dois.

E, novamente, peço desculpas pelo indesculpável. Fear not. Nick and Tony will rock on!

domingo, 17 de outubro de 2010

PERDENDO POR ESPERAR

Quando abro a porta de casa ao chegar do trabalho, geralmente ouço passos de crianças correndo desesperadas e móveis sendo arrastados, indicando que os molex perceberam minha presença e se esconderam para que eu os encontre.

Outro dia, não foi diferente. Entrei pela sala e fiz o joguinho deles, passeando pela casa lentamente, chamando pelos dois e causando neles o que deve ter sido um suspense quase insuportável.

Tanto é que Tony não suportou a brincadeira por muito tempo e saltou de trás de um móvel gritando: “AHÁÁÁÁÁÁÁ!!!"

Fingi um susto de proporções Hollywoodianas, dei um abraço e fui até o quarto atrás do outro rapaz escondido.

Encontrei a Carla assistindo à televisão despretensiosamente com um grande e suspeito edredom jogado ao seu lado. O edredom se mexia ligeiramente e ria de forma contida, características não muito habituais deste tipo de cobertor.

A Carla então me disse, em alto e bom tom, que havia esquecido o Nick na casa da mãe dela, o que causou ainda mais movimentação no edredom.

Imediatamente, disse a ela que eu iria buscá-lo, me virei e fui rapidamente até a porta da cozinha.

Lá atrás, ouvi um: “Tô aqui! Ei!”, mas, para efeitos humorísticos, fingi que não havia escutado e saí do apartamento antes que o Nick pudesse me alcançar.

Rapidamente me ajoelhei no capacho, de frente para a porta, e fiquei esperando o garoto sair de casa, desesperado para evitar que eu fosse até a casa da minha sogra em vão.

Enquanto esperava pelos 5 segundos que o Nick levaria do quarto até a cozinha, ri baixinho imaginando a expressão no rosto dele ao abrir a porta e dar de cara comigo.

Mas os 5 segundos se transformaram em 10.

E depois em 20. 



E depois uma vizinha saiu do elevador e me encontrou ajoelhado de cara para a minha própria porta e me deu um “Boa noite...” desconfortável, entrando no seu apartamento antes que eu pudesse explicar o que estava fazendo.

E quando finalmente percebi que não havia NENHUMA movimentação por trás da porta, me levantei e fui ver o que estava acontecendo.

Encontrei o Nick sentado na sala jogando videogame com o Tony, na maior paz e tranquilidade.

Em linhas gerais, isso significa que ele estava disposto a me deixar ir ATÉ A LAPA para buscá-lo de um lugar em que ele SABIA QUE NÃO ESTAVA.

Então agora vocês entendem porque eu olho com desdém para vocês cada vez que me dizem: “Ah... como seus filhos são bonzinhos!”

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O QUE É, O QUE É?

Os molex estão na fase de formação do seu senso de humor.

Eles querem fazer piadas e causar gargalhadas, e ultimamente vêm conseguindo fazer isso, só que talvez não pelos motivos que gostariam.

O que ocorre é que eles já entenderam mais ou menos a estrutura de piadas do tipo “o que é, o que é”, só que MAIS OU MENOS.

Eles entendem que devem fazer uma pergunta inusitada, do tipo “O que é que cai de pé e corre deitado?”, mas ainda não entenderam que não basta a resposta ter um fator divertido e inesperado - ela também tem que estar de alguma maneira RELACIONADA COM A PERGUNTA EM QUESTÃO.

Aqui um exemplo de uma que eles fizeram há um tempinho:

“O que é que o carro falou para a casa?”
“Não sei... o quê?”
“Ei... por que é que... como você... por que você não EXPLODE SEU CÉREBRO? HAHAHAHAHAHAHAHAHA!”

Hoje tivemos mais alguns exemplos.

“O que o copo disse para o espelho?”
“Não sei... que está na hora de refletir sobre o assunto?”
“Não.”
“O quê, então?”
“Ele disse... disse... ele disse... EI! POR QUE DÁ PARA VER O SEU BUMBUNZINHO?! HAHAHAHAHAHAHAHAHAH!" (as gargalhadas vieram dos dois, histericamente, enquanto eu e a Carla nos olhávamos perdidos).

“E o que a chuva disse para o mar?”
“Hm... acho que tô com problema de gota?”
“Não. Ela disse... eu estou caindo em cima você como um banho porque você mora em todos os lugares e eu moro no céu, então posso cair em cima de você.”

O interessante é que tá na cara que eles não fazem a menor ideia da resposta quando fazem a pergunta, o que leva a clássicos do tipo:

“O que o telefone falou para a pimenta e para o peixe?”
“Já sei. Nada porque ele tava ocupado!”
“Não! Você ERROU!”
“OK. O quê então?”
“Ele disse... ele disse... oi, como você esta? Você sabia que você é apimentada? Sim, eu sei porque sou uma pimenta! Ei! Peraí! Eu moro no mar porque sou um peixe, e você? Onde você mora? Eu moro na minha casa e às vezes...” (e por aí vai).

Tivemos mais alguns exemplos destas “anedotas” e de repente o Nick soltou a seguinte pergunta: “O que é que o cachorro falou para o cachorro chow-chow?”

Deliberamos sobre o fato do chow-chow ter a língua azul e arriscamos respostas do tipo:

“Ei! O que aconteceu com sua língua?!”
“Acho que colocaram tinta na sua ração.”
“Por que sua língua é azul e a minha é cor de pele?!" (esta última, uma sugestão do Tony)

Mas após alguns instantes, ficou claro que nenhum de nós acertaria a resposta, e então perguntamos ao Nick o que é que o cachorro havia dito ao cachorro chow-chow, na expectativa de uma resposta do tipo “PORQUE ELE QUERIA EXPLODIR O SEU CÉREBRO!”, mas ele simplesmente respondeu:

“Au! Au!”

Touché! Nick 1x0 Nós

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

QUANDO A TV ASSISTE A VOCÊ

Post rápido com um episódio presenciado pela Carla hoje pela manhã (NOTÍCIA FRESQUINHA HEIN?).

Ela estava na sala quando o Tony veio correndo eufórico falar com ela.

"Mamãe! Mamãe! A moça da TV Globinho falou comigo!"

Estava ele lá no quarto, assistindo ao programa de desenhos matinais da Globo - que coisa nostálgica... pena que a abertura não é mais aquela do caubói que dá cem tiros duma vez, mas, realmente, não existe nada mais antigo.

Em vez do habitual uniforme escolar, ele trajava uma belíssima e imponente camisa vermelha do Arsenal porque hoje era o Dia do Esporte na escola e eles tinham que ir vestidos com alguma coisa esportiva.

De repente, a menina que apresenta o programa olhou para a câmera e disse: "Ei! Você de vermelho!"

O Tony olhou para os lados para ver se era com ele mesmo e ela continuou: "É! Você mesmo!"

Surpreso e encabulado, ele mostrou a língua para a apresentadora, que por coincidência riu.

Para o Tony, foi um momento mágico em que a TV interagiu com ele. Para mim, foi um belíssimo trabalho da apresentadora, que sabia que TODOS os espectadores mirins vestidos de vermelho se identificariam com o comentário e achariam que ela estava falando de fato com eles.

Foi uma brincadeirinha boba, mas que usou a inocência das crianças para trazer uma um pouco de magia ao dia delas.

Foi de tirar o chapéu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

BANANAS À MILANESA E NADA À MUYQUESA

Faz apenas 7 anos que decidi me aventurar na cozinha, tudo graças o nascimento dos dois.

Com a Carla amamentando os molex de hora em hora, achei que seria muito FEIO ainda esperar que ela arranjasse tempo para fazer o jantar, então me empenhei em aprender a cozinhar.

Ai, ontem, tive a prova de que nem todo mundo espera 30 anos para brincar de chef de cozinha.

Cheguei em casa e descobri que a Carla tinha preparado filés acebolados, arroz, feijão e bananas à milanesa, sendo que este último item havia sido feito com uma ajudinha mirim.

Confesso que nunca dei muita bola para banana à milanesa, mas por algum motivo os molex ADORAM e, ao saber que a Carla prepararia a iguaria para o jantar, o Tony decidiu ajudar.

Claro que ela deixou e, enquanto ele passava o ovo batido e a farinha de rosca nas bananas, a Carla cuidava da parte que envolvia óleo quente e fritura.

Em determinado momento, acabaram as bananas, só que ainda sobrava ovo batido na tigela e farinha de rosca no prato fundo.

Então o Tony sugeriu misturar tudo e fritar, numa espécie de... ehm... "NADA À MILANESA".

O resultado foi uma massa frita que até parecia com alguma coisa empanada, mas que no fundo era uma mistura de ovos com farinha de rosca, frita em óleo.

Evidentemente, no instante em que botei o pé para dentro de casa, fui recepcionado por duas crianças ansiosas e empolgadas, implorando que eu experimentasse logo a tal “receita do Tony”.

Ele veio me mostrar o prato e me explicou que se tratava de uma invenção própria que ele havia denominado de “MUYQUESA” (a quem não entendeu o porquê do nome, sugiro darem uma olhada neste post, em que o Tony definiu o nome da sua equipe no jogo Pro Evolution Soccer. Desde então, o termo “Muyk” acabou virando uma marca registrada para tudo que ele cria).

Quando sentamos à mesa, ele me disse que, além de ser um acompanhamento para diversos pratos salgados, a Muyquesa ainda tinha a versatilidade de poder ser servida como sobremesa, bastando para isso adicionar açúcar na hora do preparo.

Comi um pouco, como é o dever de todo pai, mas digamos que achei mais prudente não repetir o prato, tendo como justificativa o fato de que fritura não combina com colesterol alto. Ele entendeu, mas não sei que desculpa a Carla deu porque ela NÃO TEM colesterol alto.

De qualquer forma, fiquei muito orgulhoso, porque é assim – testando e experimentando – que se começa a desbravar este fascinante e saboroso universo que é a culinária.

A única diferença é que, enquanto eu comecei HÁ 7 anos, o Tony preferiu fazer o mesmo AOS 7 anos.

P.S. A quem estiver se perguntando, as bananas à milanesa ficaram realmente muito boas.

domingo, 3 de outubro de 2010

PROBLEMAS COM A SABESP

Estávamos almoçando num simpático restaurante com vista para a calçada quando de repente o Nick apontou para a rua e gritou:

“Oh não! De novo! EU ODEIO ELES! ODEIO!”

Em choque, olhei para a rua e vi que ele apontava para um caminhão da Sabesp, mais precisamente para o motorista e passageiro, que por sorte não estavam olhando para nós.

O Nick continuava contundente em demonstrar seu desprezo e indignação, então achei prudente pará-lo com um sonoro “SHHHHHHHHHH!!” enquanto olhava para a Carla em busca de um esclarecimento.

Aparentemente, o Nick anda sendo “seguido” pela Sabesp. Para onde quer que ele olhe, sempre acaba dando de cara com algo ostentando o logo da companhia – caminhões, placas, prédios, etc., e, como consequência, ele desenvolveu uma espécie de antipatia paranóica pela instituição.

Claro que os dois funcionários da Sabesp não tinham nada com isso, então fiquei feliz quando o farol abriu e o caminhão pôde seguir seu caminho sem que ninguém tivesse percebido o acesso de fúria daquele menininho de 7 anos.

Achei engraçado, mas fico pensando no que eu faria se estivesse calmamente parado no meu carro e de repente visse um garotinho apontando para mim e urrando que me odiava a plenos pulmões. Não sei se colaria a desculpa de que não era nada pessoal, mas que ele havia desenvolvido uma paranóia em relação à empresa na qual trabalho. Sei lá.

De qualquer forma, nada disso aconteceu e pudemos voltar ao nosso almoço em paz. E aí o Tony olhou para o Nick e disse, em tom de bronca:

“Eu acho muito feio você odiar a Sabesp. Porque ela garante a nossa sobrevivência.”

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MALA DIRETA IN-HOUSE

Post rápido, mas achei que valia o registro.

Anteontem, o Tony fez questão de me mostrar seu álbum de figurinhas do Campeonato Brasileiro. Ponte-pretano que sou (sim, eu sei, nem precisam comentar), percebi que faltavam duas figurinhas para que ele completasse o time e comentei, em tom de brincadeira, que isso não podia ficar assim.

Ele deve ter ficado com isso na cabeça porque ontem cheguei do trabalho e fui recepcionado por um papel dobrado, no qual estava escrito (com a caligrafia distinta do Tony):


Ao abrir a carta, dei de cara com o seguinte texto em inglês:

(Traduzindo: "Daddy. I, Anthony, completed Ponte Preta")


Em outras palavras, ele havia conseguido as figurinhas que faltavam para completar o glorioso time de Campinas e, evidentemente, tal feito merecia ser informado para seu público-alvo (a.k.a.: eu).

Mais que escrever um simples bilhete, ele usou o "Carta para Vladimir" em português, como um teaser para me obrigar a abrir a carta.

Como só falo em inglês com ele (METIIIIIIIIIDO) e ele não costuma me chamar de VLADIMIR, provavelmente deve ter feito isso para que eu não desconfiasse que o bilhete era de sua autoria, e que se tratava de uma correspondência do banco ou algo assim.

Ao ler o texto interno, claro que fui correndo ver o álbum com ele, mas aí me toquei de uma coisa: com 20 anos de propaganda nas costas, eu havia tido uma aula prática de como utilizar o marketing direto de maneira realmente eficaz na mobilização de um público-alvo específico.

Só que o professor da aula tinha apenas 7 anos de idade.

TER FILHOS É PADECER NO INVERNO

Hoje me perguntaram se eu tinha gêmeos.

Disse que sim e a pessoa me respondeu com um “Ahhhh... que legal!”, e isto para mim é o maior indicativo de que ela não tem filhos e muito menos GÊMEOS.

Quem tem gêmeos, por mais que tente, nunca consegue abrir um sorriso muito grande quando ouve que outra pessoa também passou por isso.

Antes que vocês me crucifiquem, acho que está bem claro pelos posts neste blog que adoro os dois. Mas o fato é que o primeiro ano é particularmente cruel para quem é vítima de filhos gêmeos.

Especialmente para a mãe, claro.

A Carla, por exemplo, fez questão de amamentar os dois até 1 ano de idade, o que em termos práticos significou que ela não dormiu durante esse ano todo.

O processo todo de acordar o bebê, dar de mamar, fazê-lo arrotar e dormir leva aproximadamente uma hora. Bebês mamam de duas em duas horas, o que quer dizer que sobra uma janelinha de uma hora para dormir entre uma mamada e outra. Só que são DOIS bebês.

Ou seja, no momento em que um está adormecendo, o outro está acordando faminto. E o ciclo vai se repetindo noite adentro.

Claro que, para piorar a história, ainda tem a CÓLICA, que faz com que os bebês chorem aos prantos durante horas, sem que nada que você faça surta qualquer efeito.

Alguns pais – poucos, é verdade – me disseram que seus filhos nunca tiveram uma única cólica e que eles dormiam quase a noite toda. A estes pais, peço desculpas por ter desejado secretamente que eles fossem atropelados por caminhões de lixo, mas o fato é que teria sido MUITO MERECIDO. Porque quem não passa noites em claro por causa dos filhos simplesmente não merece a misericórdia de nós que passamos.

O ápice do meu desespero foi um dia de inverno em que um deles não parava de chorar por causa de cólica e a Carla tentava amamentar o outro. Para evitar um chororô generalizado, levei o pobre bebê para a sala e fiquei andando pra lá e pra cá sem qualquer sinal de melhora. O tempo foi passando e minha exaustão ia sendo levada ao limite quando, de repente, tive uma ideia.

Agasalhei muito bem o menino porque a temperatura naquela noite estava muito baixa. Depois, fiquei só de short - sem camisa e descalço - e fui com ele perambular pela área de serviço (de novo, reforço que nosso filho estava devidamente protegido por camadas e mais camadas de cobertores).

Após alguns minutos, a Carla apareceu e quis saber o que eu estava fazendo quase nu na área mais gelada do apartamento, ainda mais numa das madrugadas mais frias do ano.

Até hoje lembro perfeitamente da resposta que dei a ela:

“Tô tentando pegar uma pneumonia... quem sabe me internam e eu finalmente consigo dormir um pouco...”

O resultado do meu plano infalível? Não peguei pneumonia, as noites em claro continuaram e eu ainda tive que lidar com isso tudo com O PIOR RESFRIADO DA MINHA VIDA.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CAIXAS DE BRINQUEDO

Os molex nunca poderão se queixar de falta de brinquedos, como vocês podem comprovar na foto ao lado. Sempre fui partidário da teoria de que o que a criança gosta é de brinquedo, então a nossa casa em determinados momentos mais se parecia com uma loja de brinquedos do que com uma residência.

Mas uma coisa sempre me intrigou, porque eu já havia lido a respeito disso antes de ter filhos, mas sempre havia considerado uma espécie de “lenda urbana”: o fato de criança brincar muito mais com a caixa do que com o brinquedo que veio dentro dela.

Revendo algumas fotos do nosso acervo, percebi que não era lenda urbana coisa nenhuma. O que me irrita é a quantidade de coisas que eu podia ter comprado PARA MIM se tivesse passado na Kalunga e levado só um monte de caixas em vez de complexos e caríssimos BRINQUEDOS.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SOBRE COBRAS, CRIANÇAS E ESCORPIÕES

Um tempinho atrás decidi fazer uma surpresa para os dois enquanto a Carla trabalhava num sábado – levá-los ao Butantan (também achava que era com “ã”, mas o instituto é com “an”).

Para quem não sabe o que é o Instituto Butantan, é um centro de pesquisas biológicas paulistano que tem como maior atração o grande acervo de animais peçonhentos em cativeiro, como cobras, aranhas e escorpiões.

No caminho, expliquei para eles o que os esperava pela frente.

“Lá tem muitas, muitas cobras... de todos os tipos! E além disso tem outros bichos também, como aranhas, escorpiões...”

Os olhos brilhavam maravilhados, da mesma forma que imagino que os meus brilharam quando meus pais me levaram até lá pela primeira vez, (sim, já existia o Butantan quando eu era criança).

Estacionamos e eles olhavam para todos os lados, num misto de excitação e um provável medo de topar com uma anaconda faminta na próxima esquina. Chegamos ao serpentário e eles contemplaram em silêncio as serpentes, que deitavam preguiçosamente ao sol.

Comecei a identificar algumas espécies para eles, que olhavam mais ao redor do que para dentro do serpentário. Aí o Nick me perguntou se os escorpiões estavam aí dentro do viveiro junto com as cobras e eu expliquei que não, que estavam dentro do museu.

Percebendo que o local rapidamente se tornava desinteressante para eles, sugeri que fôssemos ao museu, onde eles poderiam ver os bichos bem de perto, por trás do vidro. E lá fomos nós.

Mas mal começamos a passear pelos corredores do museu e o Nick perguntou:

“É aqui que estão os escorpiões?”

Eu respondi que sim, mas mais para frente. E mostrei uma cascavel olhando ameaçadoramente para nós através do vidro de seu “cubículo”. Eles observaram rapidamente e partiram para a próxima cobra.

Daí para frente, eles paravam (quando paravam) durante uns 3 ou 4 segundos em cada local e já partiam para o próximo, contrariando o conceito básico de qualquer museu que é o de OBSERVAR O QUE ESTÁ SENDO EXPOSTO.

Inicialmente, achei que isso ocorria porque o fato de estarem tão próximos a serpentes tão perigosas estava os deixando nervosos, e eles haviam se dado conta do enorme perigo que era estarem cercados por dezenas de víboras, corais, najas e jararacas...

Mas não. Descobri o motivo real quando eles me perguntaram, impacientes, durante a rápida marcha pela exposição:

“Então... cadê os escorpiões?!”

Estava claro que os pequenos aracnídeos tinham desbancado os grandes répteis rastejantes como as principais vedetes do instituto, então lá fomos nós, rumo à “seção dos escorpiões”.

Caprichosamente, os escorpiões eram os últimos animais expostos no museu e nem mesmo as caranguejeiras ou viúvas negras que se encontravam antes deles receberam mais do que um rápido olhar entediado.

A tal “seção dos escorpiões” era composta por dois displays de vidro com uma ambientação para mostrar como o bicho consegue SE ESCONDER e SE CAMUFLAR para caçar suas presas com o máximo de eficiência.

Assim, tive que ficar uns bons minutos tentando encontrar os animais em meio a folhas secas e galhos de árvore, com os dois garotos já impacientes do meu lado. Quando finalmente os achei e apontei sua localização para os molex, a expressão no rosto deles foi como se eu estivesse exibindo o caderno de economia do Estadão. Os escorpiões imoveis e amarelados, de uns 3cm de comprimento, com certeza não se equiparavam aos enormes monstros negros dos filmes, que aterrorizavam cidades inteiras com seus ferrões pingando ácido sulfúrico.

O Nick se virou e continuou rumo à saída enquanto o Tony balançou levemente a cabeça e ao menos me dignou com um:

“Hm... ok. Podemos ir?”

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

MAMÃE, XABE QUE TI CONSIDERO... HIC!

Historicamente, sempre fui incapaz de fritar um simples ovo, mas aprendi a cozinhar na marra, como tentativa de dar um mínimo de descanso para a Carla após o nascimento dos molex.

Aí, alguns anos atrás, decidi fazer um almoção de sábado e, como parte do ritual, preparei uma caipirinha para ir bebericando durante o processo.

Fui buscar algo na sala e acabei deixando o drink bem no centro da mesa de jantar (na época os molex tinham um ano e meio e nem andavam direito ainda, mas lembro de ter tido o cuidado de deixar o copo fora de alcance).

De repente, enquanto eu preparava os ingredientes na cozinha, ouvi um “CHARLES!” enfurecido vindo da sala.

Já praticamente baixando as calças para levar umas boas palmadas da Carla, me arrastei até a sala para descobrir o que eu tinha feito de errado desta vez.

A encontrei segurando a mão do Tony, de pé ao seu lado. Com um olhar de reprovação, ela me ordenou:

“Sente o hálito do seu filho!”

Me aproximei do rosto dele e senti um inconfundível cheiro de CACHAÇA exalando da inocente boca do meu filho pequeno.

Tentei argumentar que não era possível, porque eu havia deixado o copo bem no meio da mesa, que por sinal era mais alta que o próprio Tony.

Só que, ao detectar a presença de um copo na mesa, a altura não havia sido um empecilho para o destemido explorador.

Primeiro ele subiu na cadeira e depois trepou para cima da mesa, onde sentou tranquilamente e tomou um gole da caipirinha antes de ser flagrado pela Carla.

No final, me livrei com uma simples advertência e aprendi a nunca mais deixar bebidas dando sopa pela casa. Mas uma coisa neste episódio me frustrou: queria ter aproveitado a situação e levado o Tony na pediatra para um exame de rotina, só para ver a cara de choque dela ao perceber o BAFO DE MÉ vindo de um menininho de 1 ano e meio (mas a Carla não deixou).

Ah, e só para esclarecer quanto à foto que ilustra este post, antes que vocês nos denunciem para a polícia: não, a Carla não parou para fotografar enquanto o Tony enchia a cara. Apesar do copo, o que ele está tomando nesta foto é suco mesmo.

E SINCERAMENTE NÃO ENTENDO ESSA OBSESSÃO QUE VOCÊS TÊM EM QUERER DENUNCIAR A GENTE PRA POLÍCIA!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

MAMÃE NÃO QUER ME SOCAR... :-(

Estávamos batendo papo na sala quando o Nick se juntou a nós.

“Mamãe... meu dente vai cair?”

Mais que interessado sobre sua higiene bucal, ele estava de olho na oportunidade financeira de trocar um dente de leite por DINHEIRO VIVO, um negócio que só a FADA DOS DENTES entende como proveitoso e rentável.

Infelizmente, a Carla percebeu que o incisivo em questão não estava molenga e disse ao Nick que tudo estava firme e forte.

Visivelmente decepcionado, ele ficou olhando para o nada, contemplativo, até que de repente seus olhos se acenderam e ele teve uma ótima ideia para resolver o problema.

“Já sei! Dá um soco na minha boca, mamãe!”

P.S. No fundo acho desnecessário dizer, mas só para evitar possíveis denúncias para a polícia, A CARLA NÃO ATENDEU O PEDIDO DO RAPAZ.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

KIDS 'N' CARS

Meu irmão Uncle Bugz deu um presente de aniversário espetacular para os molex: o “autorama” do Speed Racer.

Percebendo a complexidade do circuito, me incumbi da ingrata tarefa de transformar peças desconexas numa pista de corridas e, depois de algum tempo, o resultado ficou verdadeiramente magnífico.

Como vocês podem ver na foto ao lado, é a pista dos sonhos de qualquer fanático por automobilismo. Principalmente aqueles que têm pouco apego a coisas como A PRÓPRIA VIDA.

Logo após a largada, uma sucessão de curvas leva a uma grande curva elevada - bem ao estilo de Monza nos anos românticos da Fórmula-1. Aí vem uma descida violenta, seguida por um looping à la Playcenter e um cruzamento na própria pista, garantia de acidentes monumentais com o outro piloto que acabou de terminar sua volta.

De fato, foram horas de diversão, emoção e adrenalina.

Mas é CLARO que um circuito destas proporções não tem lugar permanente numa casa que possua mulheres, né? Então o bicho voltou pra caixa logo depois da primeira semana de liberdade.

Aí, hoje cheguei em casa e descobri que os molex haviam tentado reproduzir, sozinhos, o complicado circuito na caixa, com suas retas, curvas, cruzamentos perigosos e looping.

E conseguiram:


Tá tudo aí: curvas, retas, cruzamentos perigosos e looping.

O QUE MAIS VOCÊ PODERIA QUERER DE UMA PISTA DE CORRIDAS?

terça-feira, 14 de setembro de 2010

DELIBERANDO BREVEMENTE SOBRA A UTILIZAÇÃO CORRETA DAS CUECAS

Outro dia (faz algum tempo, é verdade) a Carla me ligou no trabalho dizendo que o Tony estava angustiado por não conseguir tirar suas cuecas.

A frase toda tem elementos que a tornam bem, digamos, BIZARRA, mas logo de cara estranhei o termo no plural: cuecas.

Pensei durante um breve instante se cueca não poderia ser como “óculos” – uma palavra plural que designa um objeto comumente visto como singular – mas não era o caso, então pedi maiores esclarecimentos.

Aí a Carla me mandou uma foto que não só explicou o plural como também a parte do “não conseguir tirar”.

Entusiasmado com a compra de um novo lote de roupas íntimas, o Tony decidiu colocar todas de uma vez. Só que na cabeça. Eram muitas e, ao tentar tirar todas, ele se embananou todo e começou a entrar em desespero.

O desespero foi prontamente atendido pela Carla, que tirou as cuecas uma a uma, mas não antes de registrar o constrangedor momento para toda a posteridade na foto abaixo:

domingo, 12 de setembro de 2010

EMPURRA-EMPURRA

Há muito tempo, compramos dois caminhõezinhos de brinquedo para os molex. A ideia inicial era que eles arrastassem pra lá e pra cá, enchessem de brinquedos, apostassem corridas, etc. Mas, logo de cara, surgiu uma utilização um tanto inusitada para os brinquedos: o Tony sentava na caçamba e era levado por toda a parte pelo Nick, como se numa espécie de rigshaw chinesa.

O Nick nunca reclamou, e ficava um bom tempo empurrando e arrastando o irmão pela casa enquanto este se limitava a dar ordens - uma espécie de versão mirim da Miss Daisy.

No parquinho, era só ver um triciclo dando sopa que lá iam os dois – o Tony sentado e o Nick fazendo as vezes do motor, empurrando seu acomodado irmão por todo o perímetro do local.

Várias vezes pedimos que ocorresse uma inversão na brincadeira, para que o Nick pudesse se beneficiar do papel de motorista em vez de eterno motor. Éramos atendidos com suspiros de ambas as partes, mas, no momento que parávamos de prestar atenção, acontecia uma nova troca de posições e lá se ia o Nick empurrando diligentemente.

Aí deduzimos o motivo para isso. O Nick tinha um apreço e admiração tão grande pelo irmão que muitas vezes preferia abrir mão de seu prazer pessoal para que o Tony pudesse ter alguns momentos de alegria e descontração. A felicidade do irmão era mais importante do que a sua própria e, como qualquer pai orgulhoso, ficamos verdadeiramente tocados pela lição de generosidade que tínhamos recebido de uma criancinha de 3 anos.

Aí um dia fui para a casa dos meus pais e, conversando no terraço, ouvi o som característico do triciclo sendo empurrado freneticamente lá fora.

“Estão ouvindo? O Nick é tão gente boa que insiste em empurrar o irmão por toda a parte. Tentamos pedir para que o Tony empurrasse o Nick de vez em quando, mas ele insiste porque pra ele não existe maior felicidade do que ver o sorriso de alegria estampado no rosto do Tony!”

Só que, de repente, de dentro de casa saiu o Tony, intrigado quanto ao quê falávamos dele. E no entanto o som do triciclo sendo empurrado continuava lá fora.

Fomos ver e percebemos que toda esta benevolência que tínhamos atribuído ao Nick tinha outra explicação muito mais simples:

Ele simplesmente adorava empurrar qualquer veículo com o máximo de velocidade possível. O Tony nessa brincadeira toda? Era um mero DETALHE.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

QUANDO OS FINS NÃO JUSTIFICAM OS MEIOS

Certas ideias só são boas até a página 2, mas a maioria das pessoas que embarca nelas só percebe isso quando já passou pela página 1.

Um destes casos foi quando o Tony apareceu chorando copiosamente em casa outro dia, carregando uma chave philips na mão (para quem não lembra o que é uma chave philips, é a que está na foto ao lado).

Ao indagar sobre o motivo do choro, percebemos que havia sangue na sua boca e nos apressamos para ver o que tinha acontecido.

Abrimos a boca dele cuidadosamente e detectamos um pequeno furo bem no meio do céu da boca. Deduzimos no ato que ele estava andando pela casa com a chave philips na boca e havia tropeçado ou batido em algum lugar (tivemos que deduzir porque, com o chororô todo, ele não estava sendo particularmente esclarecedor).

Mas aí percebi um detalhe curioso: na haste metálica da ferramenta havia uma folha A4 dobrada várias vezes. Era como se alguém tivesse usado a chave philips para atravessar todas as dobras do papel de uma vez.

Alguns minutos depois, com mais calma e recuperado do susto, o Tony nos contou o que havia ocorrido.

Ele tinha dobrado a folha várias vezes e queria fazer um furo transpassando o calhamaço todo. Encontrou a chave philips e tentou furar sem sucesso porque a grande quantidade de dobras no papel tornava a operação muito difícil.

Aí ele percebeu que podia simplesmente segurar o papel dobrado entre os dentes – com muito mais firmeza – e utilizar a chave philips com ambas as mãos para fazer o furo.

Deve ter parecido uma ideia brilhante até a hora em que a chave philips de fato furou o calhamaço de papel e continuou seu trajeto boca adentro até se alojar no céu da boca do Tony.

A Carla acredita que este raciocínio até certo ponto peculiar é decorrente da minha contribuição genética na “produção” dos molex. Mas em defesa do Tony, o objetivo não era furar o papel? Pois então. Deu certo!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

PEDRO BOSCO IS ALIVE

Fresquinha que aconteceu hoje no almoço.

Os molex estavam afim de hambúrgueres e nós acabamos indo num lugar perto de casa chamado Zé do Hambúrguer, indicação de um amigo.

O lugar segue a temática dos Snack Bars americanos dos anos 50, com jukebox, fountain soda e decoração bem fifties. Sentamos à mesa e, numa tela imitando aquelas televisões de tubo da época, estava passando um show com o Elvis Presley.

Aí perguntei pros molex se eles sabiam quem estava cantando e o Tony respondeu na hora:

"Claro né? É o Pedro Bosco!"

WHO???

OBEDIÊNCIA INSTANTÂNEA

Arrumar uma bagunça consome tempo e, quando se é criança, qualquer coisa que tire o foco de uma brincadeira ou diversão deve ser resolvida da maneira mais rápida e indolor possível.

Um exemplo é a foto abaixo. Enquanto nós, adultos, podemos levar uns bons 20 minutos para arrumar uma gaveta de roupas, os molex - dotados de um impressionante senso prático - realizam o mesmo serviço em meros 20 segundos.

De novo, a boa e velha pergunta: os caras sinceramente achavam que a gente ia deixar por isso mesmo?

sábado, 4 de setembro de 2010

SE CASAR, NÃO CORRA

Dois amigos meus decidiram se casar e tiveram a ideia de usar os molex como pajens (nem sabia que existia este termo – sempre chamei de “daminhos”).

Alertei o casal de que os dois tinham apenas 4 anos e ainda não eram 100% controláveis, mas como os meninos sempre se portavam muito bem em eventos sociais e afins, foi impossível tirar a ideia da cabeça da noiva. Então, honrados pela escolha, mas um tanto preocupados, lá fomos nós para o ensaio.

O casamento era ao ar livre e o altar não havia sido montado ainda, o que nos obrigou a improvisar os detalhes da cerimônia no que era praticamente um gramado vazio.

E tudo correu muito bem, até porque o processo todo era simples: o Nick seguiria com a daminha de honra até o altar e esperaria lá. Depois, o Tony levaria as alianças numa almofada e, após a entrada da noiva, os dois estariam liberados para sair do altar discretamente – afinal, eles tinham só 4 anos e dificilmente conseguiriam ficar de pé quietinhos até o fim da cerimônia.

Realizado o ensaio, noivo e noiva estavam felizes e tranquilos. Eu e a Carla ainda achávamos que as coisas poderiam não ser tão perfeitas no casamento em si, mas até aí estávamos apenas sendo ARAUTOS DO APOCALIPSE, porque tudo havia corrido bem.

Então chegou o grande dia. Estávamos no local do casamento com 2 horas de antecedência e repassamos o procedimento todo com os molex, tantas vezes quanto possível. Aí veio a hora do casamento em si.

Com toda a pompa e circunstância, o noivo caminhou até o altar, seguido pelo Nick e pela daminha. Eu esperava com o Tony até o momento de “soltá-lo”, mas percebi que ele tinha um olhar vago no rosto, o que começou a me assustar um pouco.

No momento certo, gentilmente disse a ele que era a sua vez, ao qual ele respondeu simplesmente com:

“Ehm... não.”

Com meu desconforto rapidamente se transformando em PÂNICO, eu pedi de novo, mas ele parecia irredutível quanto à sua decisão de não caminhar até o altar.

Ele até deu alguns passos pelo caminho, mas de repente congelou, evidentemente aterrorizado pela quantidade de pessoas que o observavam atentamente.

Aí veio o ponto alto do cerimonial: o Nick, percebendo a gravidade da situação, desceu do altar e foi correndo até o irmão, abraçou-o calorosamente e pegou a almofada com as alianças para levar até o noivo.

Um “ooooooooooohhhhhhhhhnnnn” generalizado se formou e todos assistiam emocionados enquanto o Nick voltava correndo até o altar.

Imediatamente, todo meu pânico se converteu numa grande sensação de alívio e tranquilidade... mas mal desconfiava eu que a sensação voltaria a ser de pânico em breves instantes.

Ao entregar as alianças para o noivo, o Nick se virou e voltou correndo pelo corredor todo. Chegando ao final, deu meia-volta e voltou correndo até o altar, aparentemente maravilhado pela pista de corrida que havia descoberto. E ficou claro que ele não tinha planos de parar com a correria tão cedo.

Neste momento, a noiva entrou e começou a se dirigir até o altar. O Nick continuava correndo num vai-e-vem frenético, desviando dela enquanto eu e a Carla tentávamos pensar em como arrancá-lo de lá.

Durante algum tempo tentei a técnica de correr junto com o Nick, mas havia muita gente de pé assistindo à cerimônia e eu não conseguia me antecipar a ele. Além disso, o altar ficava encostado numa árvore centenária, o que me obrigava a praticamente trepar pelos galhos e raízes para me aproximar do local e, quando finalmente conseguia, o ligeiro garoto já estava correndo na direção oposta.

Com minha adrenalina e desespero atingindo níveis inimagináveis, decidi me infiltrar entre os convidados para tentar interceptar o Nick de surpresa pelo percurso.

Felizmente, deu certo. No que deve ter sido a 6ª ou 7ª passagem do Nick pelo corredor central, estiquei os braços de surpresa e o peguei, tal qual um grande crocodilo africano abocanhando um pobre gnu sedento na beira do lago.

Feito isso, o casamento pôde seguir seu curso normal e, depois, os noivos disseram ter achado o incidente memorável e divertidíssimo.

Só sei que, depois disso tudo, tanto a Carla quanto eu achamos MUITO JUSTA a possibilidade de tomar algumas doses a mais durante a festa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

SERÁ QUE O DAMIEN HIRST COMEÇOU ASSIM?

Não sei se sou só eu, mas quando me deparo com cenas com as abaixo, às vezes me questiono se não estou criando dois Dexter Morganzinhos em casa.

Sei lá. Ter filhos às vezes pode ser meio, digamos, PERTURBADOR...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O DIA EM QUE O TONY GANHOU PONTO COMIGO

Era uma agradável noite de verão e voltávamos da locadora, que fica a um quarteirão de casa. Eu segurava a mão do Tony e a Carla a do Nick.

Em determinado momento, não lembro bem porquê, começamos a competir para ver quem chegaria primeiro ao portão do prédio e, como o Nick era muito ágil, eu sabia que minha única alternativa para ganhar a disputa seria impedir que ambos nos ultrapassassem.

Assim, ficamos tentando bloquear uma eventual investida dos dois o quanto fosse possível, e a tática se mostrou eficiente até chegarmos a poucos metros do portão. Aí o chinelo do Tony caiu.

Ao perceber que a Carla e o Nick nos ultrapassavam pela esquerda, não tive dúvidas: agarrei o chinelo com uma mão e coloquei o Tony embaixo do outro braço com o intuito de carregá-lo pelos poucos metros que restavam no percurso.

Só que logo no primeiro passo fui perdendo o equilíbrio e ambos caímos espalhafatosamente no chão, no que deve ter sido um espetáculo verdadeiramente patético e grotesco de assistir.

Para piorar, o Tony bateu o queixo e teve que levar alguns pontos enquanto a culpa e o remorso me torturavam no pronto socorro. Mas, gente boa que é, ele me perdoou pela insensatez do ocorrido (até porque chegamos primeiro no portão e acabamos ganhando a prova).

No dia seguinte, achei que seria de bom tom avisar minha mãe, que me crucificaria se descobrisse que ninguém havia a avisado que seu netinho havia levado pontos, então liguei.

“Oi Mum, tudo bem?”
“Oi! Tudo bem. E você?”
“Olha, tá TUDO BEM, mas o Tony teve que levar uns pontinhos ontem...”
“Ai meu Deus! O que aconteceu?!”
“Então... eu estava jogando ele pra cima e pegando ele no ar, sabe? Aí esqueci que estávamos na loja da Carla e que o ventilador estava ligado, né? Aí quando joguei ele pro alto... FRRRRAKKK!!!”
“Ehn... você...” (seguido por um silêncio sepulcral)
“Nah! Tô brincando. Tropeçamos perto de casa e ele bateu o queixo na calçada!”
“Nossa! Que susto! Por que você falou aquilo?!”
“Ué! Só pra você ver como podia ter sido MUITO PIOR.”

HIDE & SEEK & WASH

Da série “pensando bem, poderia ter sido bem pior”, fico imaginando que pelo menos ele não decidiu se esconder dentro do forno. Ou da fossa séptica (se bem que isso provavelmente só porque nós NÃO TEMOS uma fossa séptica em casa...)

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

INOCENTE ATÉ QUE SE PROVE O CONTRÁRIO. OU NÃO.

Pegando carona neste post anterior, lembrei de um episódio interessante relacionado ao tema.

Passando pela sala, detectamos um hominho desenhado na parede. O desenho tinha o estilo característico do Tony e na hora o chamamos para prestar seu depoimento.

Perguntamos quem tinha feito o desenho e ele parou, colocou a mão no queixo e contemplou os rabiscos tal qual um paleontólogo se deparando com hieróglifos numa pirâmide. Segue o diálogo com a Carla:

“Hmmm... tô achando que foi o Nick...”
“Ah é? Então eu acho que vou ter que colocar o Nick de castigo, né?”
“Isso, mamãe. Põe ele de castigo.”
“Tony! Você sabe que foi você e não o Nick que fez este desenho, né?”
“(suspiro) Sim...”
“Então você ia deixar ele ficar de castigo por algo que você fez?”

Nisso o Tony se aproximou, abraçou a Carla carinhosamente e disse: “Desculpa, mamãe...”

A atitude emocionalmente chantagista pode não ter isentado o Tony do castigo, mas com certeza fez com que a Carla se sentisse muito mais culpada por deixá-lo CINCO MINUTOS pensando sobre o assunto no quarto.

O fato é que ele aprendeu que, mesmo tendo errado, há benefícios em abrir o jogo e demonstrar arrependimento.

O melhor exemplo disso foi quando apareceram uns desenhos na mesa da sala (não em papéis sobre a mesa, mas NA mesa). Ao serem confrontados com os rabiscos, ambos negaram veementemente e a Carla disse que, se ninguém assumisse a autoria do crime, ela iria deduzir que ambos fossem culpados. Mesmo assim, ninguém admitiu.

Aí, em determinado momento, ela foi para a cozinha e eu tentei uma última cartada, falando quase como cúmplice dos dois.

“Vocês sabem que ninguém apanha nesta casa, né? A gente só quer saber a verdade, só quer que a pessoa que fez isso diga quem foi. Poxa... a gente quer que vocês tenham a porta aberta para falar com a gente mesmo quando as coisas ficam complicadas, e a única forma de fazermos isso é com vocês confiando na gente e a gente confiando em vocês...”

Fiquei nesse bla bla bla ético durante alguns minutos enquanto ambos me observavam com atenção, analisando meu papel de conciliador nessa história toda. E aí um deles se manifestou.

“Então... fui eu...”

Fiquei feliz e na hora quis demonstrar que o que eu havia falado era a verdade. Ele não seria punido, mas expliquei que o que ele havia feito era errado e pedi para ele nunca mais fazer isso, etc.

Ele balançou a cabeça humildemente, prometeu não fazer mais isso e os dois foram dispensados da mesa para brincar no quarto.

Fui para a cozinha e relatei o ocorrido à Carla, que sorriu levemente e disse:

“Quem você falou que assumiu a culpa?”
“O Tony.”
“ Você viu os desenhos?”
“Sim. O que que tem?”
“São do Nick. Pode comparar com qualquer desenho dele.”

Ou seja, o Nick fez os desenhos e o Tony, ao perceber que ganharia pontos por assumir a culpa (e ao ter certeza de que ninguém seria punido por isso), decidiu "confessar" e sair como o grande herói da história. Praticamente um Tiradentes.

O fato do Nick ter PERMITIDO que o Tony fizesse isso é algo digno de estudo, mas o que me intriga de verdade é o seguinte: como é que alguém consegue utilizar duas maneiras completamente antagônicas para lidar com uma mesma situação - "Foi o Nick" e "Fui eu" - e mesmo assim sai de ambos os casos como um BAITA DUM MALANDRO SAFADO?

sábado, 28 de agosto de 2010

VARIANDO O CARDÁPIO

Sempre fizemos questão de oferecer um cardápio que fosse o mais variado possível aos dois, incentivando assim o desenvolvimento de um paladar mais apurado, capaz de detectar as nuances de cada especialidade gastronômica.

Isso inclui, por exemplo, expor os dois a sabores que não costumam ser habituais no nosso dia-a-dia, como pratos típicos de outros países e culturas.

O legal é que com isso você acaba percebendo as diferenças entre os gostos pessoais de cada um, como vocês podem ver nas fotos abaixo.

Enquanto o Tony adora comida japonesa, o Nick prefere a havaiana.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A ARTE DE ESTAR GERUNDIANDO EM INGLÊS

Já havia comentado sobre alguns “deslizes” bilingues cometidos pelos molex aqui, mas acabo de lembrar de uma boa do Nick que acho digna de postagem.

Outro dia ele utilizou o gerúndio de uma maneira tão inesperada, e ao mesmo tempo carregada de lógica, que acho que nem o mais experiente operador de telemarketing “estaria conseguindo” fazer.

Tudo bem que foi em inglês, mas o raciocínio foi maravilhoso.

Eu tinha pedido que ele tirasse a roupa para colocar o pijama, mas é claro que tudo se sucedeu em câmera lenta, com direito a divagações e devaneios mil, o que tornou uma simples troca de roupas num processo cansativo e interminável.

Então fui obrigado a ser mais contundente e falei, num tom mais áspero:

“Nick! Take off your clothes NOW!”

Ao qual ele respondeu com:

“I’M TAKE OFFING!”

SOBRE CANETAS E PAREDES

Parece que há um magnetismo que atrai crianças com canetas às paredes, por mais que elas saibam e “entendam” que existem lugares certos para desenhar.

Pensando nisso, compramos uma lousa branca para que eles pudessem desenhar com suas canetinhas à vontade, numa superfície vertical tal qual uma parede, extravasando assim seus impulsos mirins de aprendiz de pichador.

Ao dar o presente, reforçamos que as paredes NÃO ERAM lugar de desenho e que toda e qualquer manifestação artística deveria ocorrer aí, na lousa.

Os dois entenderam direitinho, balançando a cabeça obedientemente enquanto esperavam impacientes pelo fim das explicações para, finalmente, poderem começar a desenhar.

Deixamos eles rabiscando alegremente e saímos da sala para assistir a um filme e, alguns minutos depois, com o efeito da novidade tendo passado, o Nick se juntou a nós.

Após um tempo, a Carla foi para a sala e ouvi ela exclamando:

“Nossa Tony! Que lindo! É a gente?”

Me levantei para ver o que ele havia desenhado e me deparei com um simpático desenho de uma família, com papai, mamãe e dois menininhos.

Enquanto a Carla elogiava o desenho, o Tony ficava de pé, uma mão na cintura e outra encostada na parede, uma pose meio cool e blasé, como tivesse plena consciência de seus incomensuráveis dotes de artista.

Mas algo no rosto dele quebrava a atmosfera “descolada” que ele tentava passar: uma vez a cada 2 ou 3 segundos, ele olhava desconcertado para a mão que estava na parede, como se estivesse tentando ver se alguma coisa que ele queria manter escondida estava visível.

Percebendo no ato o que havia acontecido, a Carla perguntou o que ele estava escondendo com a mão.

Ele olhou para ela com curiosidade por alguns instantes, contemplativo, e respondeu:

“O quê?”

Com isso, ele ganhava alguns segundos adicionais de vida para planejar uma improvável, mas não inteiramente impossível, fuga.

Mas a insistência da Carla o obrigou a finalmente ceder e revelar o que se escondia por trás da sua mão: um pequeno círculo em caneta vermelha na parede.

Fiquei pensando um pouco sobre a situação toda.

O fato dele ter escondido o risco na parede significa que ele SABIA que era algo errado e que a única forma que ele tinha de não levar bronca por isso seria esconder o desenho ETERNAMENTE.

Na teoria, isso até seria possível. Afinal, pais conscientes que somos, nunca deixaríamos que ele morresse de fome só por não poder se dirigir à mesa do jantar, por exemplo. Mas, se ele sabia que nós nunca poderíamos ver o desenho porque era errado ele ter feito na parede, PRA QUÊ FAZER?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

DEDUÇÕES LÓGICAS

O desenvolvimento de um raciocínio lógico na criança é algo muito interessante de se acompanhar.

Este exemplo, de dezembro de 2004, mostra bem como funciona o este processo de aprendizado na cabeça de uma criança (bebê?) de um ano e meio.


1. Experiência: O que acontece se eu oferecer este quibe para meu irmão?



2. Resultado: Ofereci um quibe para o Nick e ele comeu sem vacilar.


3. Dedução Lógica: Ele come qualquer coisa. Logo, tudo bem se eu enfiar este LIMÃO INTEIRO na sua boca.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

JESUS, THE DODÓI MAN

Fizemos questão de não IMPOR nenhum tipo de religião – ou não-religião – nos molex, deixando esta escolha para eles quando tiverem idade suficiente para decidir o que devem ou não acreditar.

Isso, claro, não impede que eles esbarrem em símbolos religiosos por toda a parte, ainda mais em um país predominantemente católico como é o caso do Brasil.

E um dia estávamos numa cantina e o Tony percebeu um crucifixo na parede do restaurante.

Claro que, ao se deparar com aquilo, ele quis saber do que se tratava, e perguntou:

“Daddy... who is that DODÓI MAN there?”

Antes que eu pudesse pensar numa forma menos, digamos, traumática de explicar a cena para uma criança de 4 anos, a Carla se adiantou e respondeu, de maneira clara e didática:

“Este é Jesus. E ele está aí porque foi CRU-CI-FI-CA-DO.”

Olhei para os dois que fitavam a Carla com seus olhos arregalados de terror. A Carla também deve ter percebido a gravidade com que eles haviam assimilado a informação porque na hora tentou remediar o comentário com:

“Mas tudo bem! Por que isso faz muuuuuuuuuito tempo!”

Ah bom! Então beleza!

domingo, 22 de agosto de 2010

AS CRIATURAS ALÉM DA ESCADA DE VOVÓ

Meus pais moram em uma chácara em Mairinque e, sempre que possível, passamos o dia lá para escapar do cinza paulistano.

Claro que, para duas crianças urbanas, de repente se encontrar em um ambiente repleto de cães (meus pais têm SEIS sheepdogs e uma pastora branca), galinhas, patos, insetos e afins pode causar uma série de dúvidas e receios.

Outro dia, minha mãe ia descer para dar de comer aos patos e galinhas e perguntou ao Tony se ele queria ir com ela. Ele aceitou na hora e lá se foram os dois carregando um balde cheio de verduras picadas.

Logo no primeiro degrau da escada, olhando para todos os lados e desconfiado, o Tony decidiu se precaver contra os integrantes do reino animal que poderiam cruzar seu caminho, e a seguinte conversa se desenvolveu enquanto ambos desciam a escada:

“Mas aqui tem cachorros?”
“Não, não... eles estão trancados lá em cima.”
“Ah tá... mas e abelhas?”
“Bom... abelhas talvez tenha uma ou outra, mas elas não fazem nada se você não fizer nada pra elas, né?”
“É... “

Eles desceram mais alguns degraus e, chegando ao fim da escada, ele se virou para ela e perguntou, com os olhos preocupados:

“Mas e as SANGUESSUGAS?!”

Partindo do pressuposto que meus pais não vivem num PÂNTANO, que meus filhos nunca sequer viram uma sanguessuga de verdade e que elas raramente atacam em ENXAMES AÉREOS, imagino que devo creditar esta preocupação à boa e velha televisão?

sábado, 21 de agosto de 2010

ACIDENTE COM DODGE VIPER CAPTURADO EM VÍDEO!

Para a maioria das pessoas, o grande responsável pela aposentadoria de seu videocassete foi a chegada do DVD.

Para nós, foi um Dodge Viper RT10 e uma cenoura (como são raras as ocasiões em nossa vida que possibilitam colocar estes dois objetos em uma mesma frase...)

P.S. Infelizmente, não temos foto da cenoura.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

FESTAS FRUSTRADAS

Este post talvez estivesse mais em casa na seção AUTOBIZARROGRAFIA do meu outro blog, mas, como os dois estiveram diretamente envolvidos com os acontecimentos, achei mais pertinente colocar aqui (até para que eles não se esqueçam nunca do pai que têm).

Como toda criança, eles são chegados numa festa e, sempre que pinta uma, fazemos questão de ir. Mas isso não aconteceu duas vezes. E em ambas as vezes fui mais ou menos responsável por isto.

A primeira foi na festa do filho de um amigo de agência, num buffet infantil. Confirmei a presença na festa, compramos presente e eu ainda comentei para a Carla – que tem uma confecção infantil – que toda festa é uma grande oportunidade de “mostrar o portifólio”. Por isso, sugeri que ela fizesse duas camisas bem bacanas para que os molex arrasassem na festinha, causando interesse das mães presentes. Esperto, né?

Claro que fui sugerir isso na noite anterior à festa, o que obrigou a Carla a ficar até de madrugada costurando, mas enfim o resultado ficou espetacular.

Sábado, acordamos tarde, fomos almoçar e vestimos os molex com suas camisas novas e transadas. A Carla me perguntou o horário da festa e o convite estava no carro, mas eu lembrava de ter visto "16h00", mas achei que seria meio deselegante ser o primeiro a chegar. Então decidimos sair de casa umas 16h15, porque o local da festa era relativamente perto.

Enrolamos um pouco e, no horário combinado, descemos até o carro, prometendo horas de diversão e alegria com um monte de brinquedos para os dois, que olhavam para nós com os olhinhos brilhando.

Entramos no carro e eu peguei o convite para confirmar o endereço e vi o horário da festa. De fato, eu tinha visto 16h00 no convite, mas este era o horário de ENCERRAMENTO da festa. Ela começava 12h00.

Esperando que a Carla e os molex vissem o lado engraçado da história, informei este infeliz infortúnio a todos no carro, e fui recepcionado por um silêncio sepulcral. No caso da Carla, este silêncio se estendeu pelo resto do dia, a não ser por um resmungos dos quais eu pinçava algumas palavras tipo “madrugada”, “costurando”, “irresponsável” e algumas outras coisas que não posso publicar neste blog.

Aparentemente ninguém mais viu o lado engraçado da coisa.

A outra ocorrência foi quando um amigo meu– que morava em Curitiba, mas vinha com frequência para São Paulo – me mandou um e-mail nos convidando para o chá de bebê dele. Pena que não tenho o convite ainda, porque não lembro exatamente o endereço, mas me recordo que era num apartamento (11º andar) no bairro de Ecoville, que é um residencial no quilômetro 42 da Rod. Castello Branco (sentido Itu).

Como passo em frente ao condomínio toda vez que vou visitar meus pais em Mairinque, fiquei feliz em finalmente ter a oportunidade de brincar nos verdes gramados de Ecoville com a criançada, então lá fomos nós no dia da festa (tive que convencer a Carla a ir porque ela estava lotada de trabalho naquele fim de semana, mas ela eventualmente sacrificou o dia de produção e aceitou.)

40 minutos depois de sairmos de casa, aportamos na portaria do condomínio. O segurança me perguntou em que lote eu ia e eu respondi o nome da rua e o número do prédio.

Ele nos olhou confuso por um instante e nos disse que aquela rua não existia. Mostrei o convite e ele falou que Ecoville era aí mesmo, mas que ele desconhecia a rua e achava curioso o fato de ser um apartamento – ainda mais no 11º andar – já que o lugar era um RESIDENCIAL em que era proibida a construção de edifícios.

Até faz sentido, porque quem é que iria se mudar para fora de Sampa, buscando qualidade de vida e verde, PARA SE ENFIAR NUM PRÉDIO DE APARTAMENTOS COM MAIS DE 11 ANDARES, NO MEIO DO NADA.

Tentei ligar para meu amigo, mas ele não atendeu e acabamos voltando para casa, de novo no MAIS COMPLETO SILÊNCIO.

A única coisa que a Carla falou a viagem toda foi “de novo... de novo...”

Chegando em casa, pesquisei na internet o endereço e... surpreendentemente, descobri que existe um bairro chamado Ecoville EM CURITIBA.

Claro que, pensando agora, não faz muito sentido alguém que mora em Curitiba e que fica na casa dos pais – no Campo Belo – quando vem pra São Paulo, decidir fazer o chá de bebê dele num condomínio em ARAÇARIGUAMA.

Mas sei lá. Na hora me pareceu uma boa ideia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

VIROU? SE VIRA

Outro dia meu irmão Uncle Bugz estava em casa para jantar com a gente. Enquanto conversávamos na sala, o Tony assistia a um filme e o Nick brincava inocentemente com um desses programinhas de desenho no computador, tipo Paint.

De repente, a Carla foi até a sala do computador para ver se estava tudo em ordem e voltou com um olhar enigmático no rosto.

“Olha... não sei como, mas o Nick conseguiu virar a tela do computador...”

Como não ouvimos aquele som distinto e desconcertante de MONITOR DE CENTENAS DE REAIS SE ESPATIFANDO NO CHÃO, ficamos imaginando como uma criança de 2 ou 3 anos poderia ter silenciosamente virado um monitor que pesava mais que ela mesma, sem que ninguém percebesse.

Chegando lá, vimos que o Nick tinha feito exatamente o que a Carla havia dito: virado a TELA e não o MONITOR TODO, como vocês podem ver na foto abaixo:


Nem eu e nem o Uncle Bugz (que é um notório COMPUTER GEEK) tínhamos a mais remota ideia de como ele havia realizado a façanha e tivemos que surfar na internet atrás de informação que nos ajudasse a resolver o problema.

Só que tudo DE LADO, com o cursor indo pra cima quando a gente arrastava o mouse para a direita, para o lado quando a gente descia... até que, depois de uma eternidade apanhando do computador – que nos encarava torto com uma espécie de sarcasmo velado – finalmente achamos uma combinação de teclas que resolveram o problema (pra quem quiser experimentar, Ctrl + Alt + Seta pra Cima).

Enquanto fazia seus riscos e quadrados no programinha, o Nick havia esbarrado nesta combinação por puro acaso, descobrindo assim um bizarro e aparentemente inútil comando do Windows.

Problema resolvido, mas a dúvida persiste até hoje.

O que levaria alguém a QUERER virar sua tela em 90º? E, pior ainda, por que alguém iria querer fazer isso com TANTA URGÊNCIA que justificasse a criação de um SHORTCUT NO TECLADO?