domingo, 17 de outubro de 2010

PERDENDO POR ESPERAR

Quando abro a porta de casa ao chegar do trabalho, geralmente ouço passos de crianças correndo desesperadas e móveis sendo arrastados, indicando que os molex perceberam minha presença e se esconderam para que eu os encontre.

Outro dia, não foi diferente. Entrei pela sala e fiz o joguinho deles, passeando pela casa lentamente, chamando pelos dois e causando neles o que deve ter sido um suspense quase insuportável.

Tanto é que Tony não suportou a brincadeira por muito tempo e saltou de trás de um móvel gritando: “AHÁÁÁÁÁÁÁ!!!"

Fingi um susto de proporções Hollywoodianas, dei um abraço e fui até o quarto atrás do outro rapaz escondido.

Encontrei a Carla assistindo à televisão despretensiosamente com um grande e suspeito edredom jogado ao seu lado. O edredom se mexia ligeiramente e ria de forma contida, características não muito habituais deste tipo de cobertor.

A Carla então me disse, em alto e bom tom, que havia esquecido o Nick na casa da mãe dela, o que causou ainda mais movimentação no edredom.

Imediatamente, disse a ela que eu iria buscá-lo, me virei e fui rapidamente até a porta da cozinha.

Lá atrás, ouvi um: “Tô aqui! Ei!”, mas, para efeitos humorísticos, fingi que não havia escutado e saí do apartamento antes que o Nick pudesse me alcançar.

Rapidamente me ajoelhei no capacho, de frente para a porta, e fiquei esperando o garoto sair de casa, desesperado para evitar que eu fosse até a casa da minha sogra em vão.

Enquanto esperava pelos 5 segundos que o Nick levaria do quarto até a cozinha, ri baixinho imaginando a expressão no rosto dele ao abrir a porta e dar de cara comigo.

Mas os 5 segundos se transformaram em 10.

E depois em 20. 



E depois uma vizinha saiu do elevador e me encontrou ajoelhado de cara para a minha própria porta e me deu um “Boa noite...” desconfortável, entrando no seu apartamento antes que eu pudesse explicar o que estava fazendo.

E quando finalmente percebi que não havia NENHUMA movimentação por trás da porta, me levantei e fui ver o que estava acontecendo.

Encontrei o Nick sentado na sala jogando videogame com o Tony, na maior paz e tranquilidade.

Em linhas gerais, isso significa que ele estava disposto a me deixar ir ATÉ A LAPA para buscá-lo de um lugar em que ele SABIA QUE NÃO ESTAVA.

Então agora vocês entendem porque eu olho com desdém para vocês cada vez que me dizem: “Ah... como seus filhos são bonzinhos!”

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O QUE É, O QUE É?

Os molex estão na fase de formação do seu senso de humor.

Eles querem fazer piadas e causar gargalhadas, e ultimamente vêm conseguindo fazer isso, só que talvez não pelos motivos que gostariam.

O que ocorre é que eles já entenderam mais ou menos a estrutura de piadas do tipo “o que é, o que é”, só que MAIS OU MENOS.

Eles entendem que devem fazer uma pergunta inusitada, do tipo “O que é que cai de pé e corre deitado?”, mas ainda não entenderam que não basta a resposta ter um fator divertido e inesperado - ela também tem que estar de alguma maneira RELACIONADA COM A PERGUNTA EM QUESTÃO.

Aqui um exemplo de uma que eles fizeram há um tempinho:

“O que é que o carro falou para a casa?”
“Não sei... o quê?”
“Ei... por que é que... como você... por que você não EXPLODE SEU CÉREBRO? HAHAHAHAHAHAHAHAHA!”

Hoje tivemos mais alguns exemplos.

“O que o copo disse para o espelho?”
“Não sei... que está na hora de refletir sobre o assunto?”
“Não.”
“O quê, então?”
“Ele disse... disse... ele disse... EI! POR QUE DÁ PARA VER O SEU BUMBUNZINHO?! HAHAHAHAHAHAHAHAHAH!" (as gargalhadas vieram dos dois, histericamente, enquanto eu e a Carla nos olhávamos perdidos).

“E o que a chuva disse para o mar?”
“Hm... acho que tô com problema de gota?”
“Não. Ela disse... eu estou caindo em cima você como um banho porque você mora em todos os lugares e eu moro no céu, então posso cair em cima de você.”

O interessante é que tá na cara que eles não fazem a menor ideia da resposta quando fazem a pergunta, o que leva a clássicos do tipo:

“O que o telefone falou para a pimenta e para o peixe?”
“Já sei. Nada porque ele tava ocupado!”
“Não! Você ERROU!”
“OK. O quê então?”
“Ele disse... ele disse... oi, como você esta? Você sabia que você é apimentada? Sim, eu sei porque sou uma pimenta! Ei! Peraí! Eu moro no mar porque sou um peixe, e você? Onde você mora? Eu moro na minha casa e às vezes...” (e por aí vai).

Tivemos mais alguns exemplos destas “anedotas” e de repente o Nick soltou a seguinte pergunta: “O que é que o cachorro falou para o cachorro chow-chow?”

Deliberamos sobre o fato do chow-chow ter a língua azul e arriscamos respostas do tipo:

“Ei! O que aconteceu com sua língua?!”
“Acho que colocaram tinta na sua ração.”
“Por que sua língua é azul e a minha é cor de pele?!" (esta última, uma sugestão do Tony)

Mas após alguns instantes, ficou claro que nenhum de nós acertaria a resposta, e então perguntamos ao Nick o que é que o cachorro havia dito ao cachorro chow-chow, na expectativa de uma resposta do tipo “PORQUE ELE QUERIA EXPLODIR O SEU CÉREBRO!”, mas ele simplesmente respondeu:

“Au! Au!”

Touché! Nick 1x0 Nós

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

QUANDO A TV ASSISTE A VOCÊ

Post rápido com um episódio presenciado pela Carla hoje pela manhã (NOTÍCIA FRESQUINHA HEIN?).

Ela estava na sala quando o Tony veio correndo eufórico falar com ela.

"Mamãe! Mamãe! A moça da TV Globinho falou comigo!"

Estava ele lá no quarto, assistindo ao programa de desenhos matinais da Globo - que coisa nostálgica... pena que a abertura não é mais aquela do caubói que dá cem tiros duma vez, mas, realmente, não existe nada mais antigo.

Em vez do habitual uniforme escolar, ele trajava uma belíssima e imponente camisa vermelha do Arsenal porque hoje era o Dia do Esporte na escola e eles tinham que ir vestidos com alguma coisa esportiva.

De repente, a menina que apresenta o programa olhou para a câmera e disse: "Ei! Você de vermelho!"

O Tony olhou para os lados para ver se era com ele mesmo e ela continuou: "É! Você mesmo!"

Surpreso e encabulado, ele mostrou a língua para a apresentadora, que por coincidência riu.

Para o Tony, foi um momento mágico em que a TV interagiu com ele. Para mim, foi um belíssimo trabalho da apresentadora, que sabia que TODOS os espectadores mirins vestidos de vermelho se identificariam com o comentário e achariam que ela estava falando de fato com eles.

Foi uma brincadeirinha boba, mas que usou a inocência das crianças para trazer uma um pouco de magia ao dia delas.

Foi de tirar o chapéu.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

BANANAS À MILANESA E NADA À MUYQUESA

Faz apenas 7 anos que decidi me aventurar na cozinha, tudo graças o nascimento dos dois.

Com a Carla amamentando os molex de hora em hora, achei que seria muito FEIO ainda esperar que ela arranjasse tempo para fazer o jantar, então me empenhei em aprender a cozinhar.

Ai, ontem, tive a prova de que nem todo mundo espera 30 anos para brincar de chef de cozinha.

Cheguei em casa e descobri que a Carla tinha preparado filés acebolados, arroz, feijão e bananas à milanesa, sendo que este último item havia sido feito com uma ajudinha mirim.

Confesso que nunca dei muita bola para banana à milanesa, mas por algum motivo os molex ADORAM e, ao saber que a Carla prepararia a iguaria para o jantar, o Tony decidiu ajudar.

Claro que ela deixou e, enquanto ele passava o ovo batido e a farinha de rosca nas bananas, a Carla cuidava da parte que envolvia óleo quente e fritura.

Em determinado momento, acabaram as bananas, só que ainda sobrava ovo batido na tigela e farinha de rosca no prato fundo.

Então o Tony sugeriu misturar tudo e fritar, numa espécie de... ehm... "NADA À MILANESA".

O resultado foi uma massa frita que até parecia com alguma coisa empanada, mas que no fundo era uma mistura de ovos com farinha de rosca, frita em óleo.

Evidentemente, no instante em que botei o pé para dentro de casa, fui recepcionado por duas crianças ansiosas e empolgadas, implorando que eu experimentasse logo a tal “receita do Tony”.

Ele veio me mostrar o prato e me explicou que se tratava de uma invenção própria que ele havia denominado de “MUYQUESA” (a quem não entendeu o porquê do nome, sugiro darem uma olhada neste post, em que o Tony definiu o nome da sua equipe no jogo Pro Evolution Soccer. Desde então, o termo “Muyk” acabou virando uma marca registrada para tudo que ele cria).

Quando sentamos à mesa, ele me disse que, além de ser um acompanhamento para diversos pratos salgados, a Muyquesa ainda tinha a versatilidade de poder ser servida como sobremesa, bastando para isso adicionar açúcar na hora do preparo.

Comi um pouco, como é o dever de todo pai, mas digamos que achei mais prudente não repetir o prato, tendo como justificativa o fato de que fritura não combina com colesterol alto. Ele entendeu, mas não sei que desculpa a Carla deu porque ela NÃO TEM colesterol alto.

De qualquer forma, fiquei muito orgulhoso, porque é assim – testando e experimentando – que se começa a desbravar este fascinante e saboroso universo que é a culinária.

A única diferença é que, enquanto eu comecei HÁ 7 anos, o Tony preferiu fazer o mesmo AOS 7 anos.

P.S. A quem estiver se perguntando, as bananas à milanesa ficaram realmente muito boas.

domingo, 3 de outubro de 2010

PROBLEMAS COM A SABESP

Estávamos almoçando num simpático restaurante com vista para a calçada quando de repente o Nick apontou para a rua e gritou:

“Oh não! De novo! EU ODEIO ELES! ODEIO!”

Em choque, olhei para a rua e vi que ele apontava para um caminhão da Sabesp, mais precisamente para o motorista e passageiro, que por sorte não estavam olhando para nós.

O Nick continuava contundente em demonstrar seu desprezo e indignação, então achei prudente pará-lo com um sonoro “SHHHHHHHHHH!!” enquanto olhava para a Carla em busca de um esclarecimento.

Aparentemente, o Nick anda sendo “seguido” pela Sabesp. Para onde quer que ele olhe, sempre acaba dando de cara com algo ostentando o logo da companhia – caminhões, placas, prédios, etc., e, como consequência, ele desenvolveu uma espécie de antipatia paranóica pela instituição.

Claro que os dois funcionários da Sabesp não tinham nada com isso, então fiquei feliz quando o farol abriu e o caminhão pôde seguir seu caminho sem que ninguém tivesse percebido o acesso de fúria daquele menininho de 7 anos.

Achei engraçado, mas fico pensando no que eu faria se estivesse calmamente parado no meu carro e de repente visse um garotinho apontando para mim e urrando que me odiava a plenos pulmões. Não sei se colaria a desculpa de que não era nada pessoal, mas que ele havia desenvolvido uma paranóia em relação à empresa na qual trabalho. Sei lá.

De qualquer forma, nada disso aconteceu e pudemos voltar ao nosso almoço em paz. E aí o Tony olhou para o Nick e disse, em tom de bronca:

“Eu acho muito feio você odiar a Sabesp. Porque ela garante a nossa sobrevivência.”