sábado, 29 de janeiro de 2011

OS CARRINHOS DA DISCÓRDIA

Como já havia dito neste post aqui, tenho uma coleção de miniaturas de Fórmula-1 (não gosto que chamem de "carrinhos"), garimpada ao longo de duas décadas.

Não são brinquedos e, logo, não tem porque as crianças quererem brincar com eles. Mas entendo que meninos são meninos e a tentação é grande.

Felizmente, ambos respeitam a restrição com disciplina exemplar, o que não os impede de procurar por formas de burlar a norma, como por exemplo essa tentativa do Nick:

"Daddy? Can we play with the cars only a little bit?"
"Hm... no."
"OK... but DÁ VONTADE..."

Aí um dia o Tony, após uma minuciosa vistoria na coleção, foi até o quarto em que eu estava e me disse que queria brincar com o carro do Schumacher, que era dele.

Na hora, lembrei que tínhamos jogado Fórmula-1 no computador e que ele havia assumido o carro do Schumacher, uma Benetton. Imaginei que ele havia encontrado o modelo do carro que tinha pilotado no joguinho e queria brincar com ele.

Em tom gentil, disse que não, que aquilo não era brinquedo e que ele sabia disso.

Ele insistiu, dizendo que era dele o carro, e eu fui firme, insistindo que não.

O garoto saiu vermelho de raiva e, depois de um tempo, entrou a Carla no quarto, segurando a risada e me informando que o Nick, em defesa do irmão, havia instruído-a a:

"Vai lá, Mamãe! Mas vai com cara de muito brava. E fala muito brava com ele! E depois dá uns tapas nele até ele deixar brincar! Vai!"

Ela não fez o que o garoto pediu, mas me disse que ele estava chateado porque um dos carrinhos que estavam expostos era do Tony, e não meu - uma Ferrari do Schumacher que minha cunhada havia dado para ele há anos.

Fui até a sala ver e confirmei a gafe - lá estavam duas Ferrari do Schumacher, idênticas. Uma a minha e outra a dele, que estava lá dentro indevidamente.

Pedindo desculpas, dei ao rapaz o carrinho dele, assumindo que o erro havia sido meu. Os garotos sorriram felizes, mas continuavam olhando para mim, como se esperando por algo a mais.

Fui perguntar o que eles estavam olhando quando de repente vi a Carla piscando para os dois. E aí ela começou a me encher de tapas, para o delírio e alegria de ambos, que gargalhavam sonoramente enquanto eu era esbofeteado para fora da sala.

É como dizem: não basta ser pai - é preciso ser surrado pela esposa na frente dos filhos de vez em quando.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

FAZENDO O PRÓPRIO PRESENTE

Este ano, os molex ganharam um skate de Natal. Fui contra, por não gostar muito de passar noites em claro dentro do pronto-socorro, mas a voz da Carla é a voz de Deus e eles ganharam seus skates.

Eles adoraram, claro, mas para mim nada se compara ao que eles ganharam no Natal de 2009. Eles haviam pedido um Playstation e o bom e velho Papai Noel não os decepcionou.

Só que um Playstation sem jogos é tão interessante quanto uma casquinha sem sorvete.

Imaginei que o Bom Velhinho atenderia ao pedido deles, então me antecipei e comprei um monte de jogos para que eles tivessem o que fazer quando o presente chegasse.

Mas queria que os jogos tivessem algo de memorável, para marcar bem o momento. Então ao longo de dezembro, pedi que eles desenhassem coisas relacionadas aos jogos que eu havia comprado - uma partida de futebol, um carro de Fórmula-1, o James Bond, o Batman...

Como eles adoram desenhar, se divertiram à beça (alguém ainda fala "à beça"?) enquanto ilustravam os mais diversos temas e personagens, sem imaginar que eu tinha planos para estes desenhos.

Quando eles haviam desenhado todos os jogos que eu tinha comprado, escaneei as imagens e as usei como base para produzir capas personalizadas para cada jogo.

Aí, no dia do Natal, além de ganharem um Playstation novinho do Papai Noel, eles ainda ganharam da gente um kit personalizado de jogos, com capas que eles mesmos haviam ajudado a fazer.

Como sei que nada dura para sempre e que isso é ainda mais crítico quando estamos falando de crianças, achei mais seguro postar as tais capas aqui antes que elas se perdessem para sempre dentro daquele vórtex de brinquedos e afins que eles carinhosamente chamam de "quarto".