terça-feira, 14 de dezembro de 2010

INTOLERÂNCIA À FALTA DE LACTOSE

Uma certa dose de desconfiança nunca fez mal a ninguém.

Foi justamente por questionar se sair da caverna para abraçar aquele tigre dentes-de-sabre fofinho era de fato uma boa ideia que nós estamos aqui hoje.

Mas não gosto quando a desconfiança se torna excessiva e não vem acompanhada de um mínimo de embasamento científico.

Por exemplo, o que acontecia com o Nick.

No primeiro ano de vida, ele foi alimentado com leite materno.

Era muito simples detectar os momentos em que ele achava ser adequado que a Carla desse de mamar: ele URRAVA DESCONTROLADAMENTE com os olhos jorrando lágrimas até que fosse atendido.

E toda manhã era assim. Era só ele acordar que lá viam os berros inconsoláveis de fome. Não havia nada que a Carla pudesse falar no curto trajeto entre nossa cama e o berço dele que aplacasse sua ira pela indesculpável demora no atendimento da garçonete-mãe.

Com o tempo, a mamadeira substituiu o peito e a locomoção bípede substituiu a incapacidade de se mexer que o prendia ao berço. Mas os gritos enfurecidos perduravam.

Toda manhã, durante 2 ANOS E MEIO, o ritual se mantinha: o Nick acordava e percebia subitamente que não havia o “tetê” dele NA SUA BOCA, justificando com isso uma explosão de gritos e choro compulsivo, provavelmente passando a todos nossos vizinhos a impressão de que nós o acordávamos com ferro em brasa.

Um dia, minha paciência se esgotou com a falta de tolerância dele (perceberam a ironia da frase?)

Ele veio se arrastando aos urros de “TETÊ! TETÊ! TETÊ!” até nosso quarto, e eu o peguei pelos braços, olhei profundamente nos olhos dele e falei, num tom duro e autoritário:

“Nick! Nos últimos NOVECENTOS E DOZE DIAS da sua vida, todos os dias – TODOS os dias – sempre demos o seu leite quando você acordava! Então POR QUE você está chorando? Me explica! Me dá UM ÚNICO MOTIVO para você chegar à conclusão de que JUSTAMENTE HOJE, a gente iria DEIXAR VOCÊ PASSANDO FOME?! HEIN?!”

Ele parou de chorar na hora, me fitando com olhos arregalados e a boca aberta.

Neste breve momento, percebi que o choro havia parado porque ele finalmente havia entendido que essas duas pessoas que estavam ao seu lado não eram apenas pessoas – eram seus PAIS.

Havia percebido que nós nunca permitiríamos que ele passasse por qualquer necessidade, o que tornava qualquer demonstração de desespero matinal em algo fútil, desnecessário.

Ele estava amparado. Protegido por duas pessoas que o amavam, e o amariam sempre, acima de tudo e de todos.

Seus olhos, ainda encharcados pelas lágrimas, tornaram esta conexão entre pai e filho em um momento ainda mais especial, e meu peito se encheu de orgulho e emoção.

Mas é claro que ele foi se esvaziando rapidamente à medida que o Nick, recuperado do susto da bronca, voltava aos seus estridentes e ensurdecedores gritos de “TETÊ! TETÊ TETÊ!”

sábado, 4 de dezembro de 2010

BEBÊ DE BRINQUEDO

Esta aí na foto é nossa sobrinha de 3 meses, que passou uns dias lá em casa semana passada. Eu tinha muita curiosidade de ver como os dois lidariam com um bebê morando dentro do território DELES.

Mas foi incrivelmente tranquilo. Talvez pela calma e tranquilidade quase sobrenaturais que a menina demonstrou durante o período todo, os dois demonstraram muito afeto por ela.

Para se ter ideia, o Tony até se aventurou em trocar as fraldas dela (mas isso merece um post exclusivo - aguardem mais alguns dias).

Aí teve um dia em que estávamos na cozinha e pedimos para que os dois ficassem de olho na garotinha, e a deixamos tal qual a foto acima.

Só que é claro que alguns minutos na cozinha já foram suficientes para que ouvíssemos risadinhas histéricas – e contidas – vindas da sala.

Fomos sorrateiramente até a porta para ver o motivo de tanta alegria, sabendo melhor que ninguém que boa coisa nunca é, e nos deparamos com a seguinte cena:



Bom, pelo menos ninguém pode culpá-los de não ter brincado com a prima...

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

QUANDO O PAI MERECE UM CARTÃO VERMELHO

Memória de criança é um troço complicado, porque eles lembram de absolutamente TUDO. Um exemplo é o que aconteceu comigo hoje depois do jantar.

Como o fim do ano letivo se aproxima, muitos dos livros e cadernos que acompanharam os molex na escola já encontraram seu caminho até nossa casa.

Isso significa que nós, pais participativos, devemos sentar com os dois e ver página por página tudo que eles fizeram ao longo de 12 meses de escola.

Em um dos livros, vi uma foto de um jogador de futebol vestindo um calção azul e camisa e meias verdes. Comentei com o Tony que parecia o uniforme do meu time no Pro Evolution Soccer, aquele jogo de futebol no Playstation e computador em que tudo é personalizável, do nome dos jogadores ao uniforme da equipe (já abordamos este assunto neste post aqui)

Jogador assíduo de Pro Evolution Soccer, o Tony concordou imediatamente com meu comentário. Depois, olhou para a foto um instante e se virou para mim dizendo, num tom contemplativo:

“Hm... it can be BOSTA HUMANA”

Em choque, perguntei a ele o que ele tinha dito, e imagino que minha expressão deixou claro que ele havia falado algo indevido, porque ele na hora tratou de esclarecer.

“O nome do seu jogador! O nome do seu jogador!”

Aí lembrei que, quando montei a equipe, dei nomes “engraçadinhos” para os jogadores e que “Bostumana” tinha sido um deles.

Só que os molex não estavam juntos comigo na hora em que editei a equipe (fiz como piada pro sobrinho da Carla, que estava lá) e evidentemente o locutor do joguinho não avisa que o “BOSTUMANA” está com a bola. Então pensei que não havia risco desta brincadeira FEIA chegar até meus filhos.

Só que, durante alguma partida, em algum momento, alguém deve ter comentado o nome dele... e isso foi o suficiente para fixar na memória do Tony o nome do sujeito como algo emblemático do time que seu pai criou.

Tanto que ATÉ HOJE ele lembra disso.

Fiquei imaginando se ele já não usou o termo na escola, de repente até com a professora, mas como não fui chamado pela diretoria para prestar depoimento, acho que felizmente não foi o caso.

Lição que aprendi com isso: você pode se esforçar o quanto quiser para ensinar a seus filhos apenas o que é bom, digno e politicamente correto, mas no fundo isso não importa. Porque se eles tiverem um único pedacinho de informação que tenha o potencial de colocar você em maus lençóis, pode ter certeza de que é ISSO QUE ELES VÃO GUARDAR PARA TODA A VIDA.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A LISTA DE TONY

Ontem estávamos discutindo o Natal e, mais importante, a famosa CARTA AO PAPAI NOEL.

Com menos de um mês até a data, achei que seria prudente ao menos imaginar o que os dois esperam ganhar do bom e gorducho velhinho, então pedi que me esclarecessem.

O Nick disse que estava cansado e que falaria comigo hoje (não falou).

Já o Tony pegou um papel e pediu uma caneta para escrever a sua LISTA DE NATAL.

A seguinte conversa se desenrolou:

"Lista?"
"Sim. A lista de coisas que eu quero para o Natal."
"Mas... ehm... você sabe que o Papai Noel não dá um monte de coisas, mas UM presente, né?"
(breve silêncio)
"Hm... ok... ah! Já sei!"
"O quê?"
"Eu faço a lista e depois eu coloco um 'X' nas coisas que eu NÃO quero."

Por mais que eu ache louvável a atitude do Tony de não sobrecarregar o pobre Papai Noel com presentes que ele não queria ganhar mesmo (vocês podem ler um pouco mais sobre o que cada Natal significa para o Bom Velhinho neste post aqui), confesso que o comentário do Tony me deixou com uma pergunta até agora sem resposta:

Em vez de perder um tempão escrevendo uma lista enorme para depois marcar com 'X' as coisas que ele não quer... por que não SIMPLESMENTE ESCREVER UMA LISTA SÓ COM COISAS QUE ELE REALMENTE QUER GANHAR?