Pensando nisso, compramos uma lousa branca para que eles pudessem desenhar com suas canetinhas à vontade, numa superfície vertical tal qual uma parede, extravasando assim seus impulsos mirins de aprendiz de pichador.
Ao dar o presente, reforçamos que as paredes NÃO ERAM lugar de desenho e que toda e qualquer manifestação artística deveria ocorrer aí, na lousa.
Os dois entenderam direitinho, balançando a cabeça obedientemente enquanto esperavam impacientes pelo fim das explicações para, finalmente, poderem começar a desenhar.
Deixamos eles rabiscando alegremente e saímos da sala para assistir a um filme e, alguns minutos depois, com o efeito da novidade tendo passado, o Nick se juntou a nós.
Após um tempo, a Carla foi para a sala e ouvi ela exclamando:
“Nossa Tony! Que lindo! É a gente?”
Me levantei para ver o que ele havia desenhado e me deparei com um simpático desenho de uma família, com papai, mamãe e dois menininhos.
Enquanto a Carla elogiava o desenho, o Tony ficava de pé, uma mão na cintura e outra encostada na parede, uma pose meio cool e blasé, como tivesse plena consciência de seus incomensuráveis dotes de artista.
Mas algo no rosto dele quebrava a atmosfera “descolada” que ele tentava passar: uma vez a cada 2 ou 3 segundos, ele olhava desconcertado para a mão que estava na parede, como se estivesse tentando ver se alguma coisa que ele queria manter escondida estava visível.
Percebendo no ato o que havia acontecido, a Carla perguntou o que ele estava escondendo com a mão.
Ele olhou para ela com curiosidade por alguns instantes, contemplativo, e respondeu:
“O quê?”
Com isso, ele ganhava alguns segundos adicionais de vida para planejar uma improvável, mas não inteiramente impossível, fuga.
Mas a insistência da Carla o obrigou a finalmente ceder e revelar o que se escondia por trás da sua mão: um pequeno círculo em caneta vermelha na parede.
Fiquei pensando um pouco sobre a situação toda.
O fato dele ter escondido o risco na parede significa que ele SABIA que era algo errado e que a única forma que ele tinha de não levar bronca por isso seria esconder o desenho ETERNAMENTE.
Na teoria, isso até seria possível. Afinal, pais conscientes que somos, nunca deixaríamos que ele morresse de fome só por não poder se dirigir à mesa do jantar, por exemplo. Mas, se ele sabia que nós nunca poderíamos ver o desenho porque era errado ele ter feito na parede, PRA QUÊ FAZER?
Meu filho desenhou no sofá um monstro retorcido de boca aberta e dentes a mostra comendo um peixe que tenta fugir assustado. Ficou tão legal! Mandei trocar o tecido mas guardei esse pedaço. Nós combinamos dele nunca mais fazer isso e ele nunca mais fez. Mas acho saudável que façam... criança que não pinta parede ou é ruim da cabeça ou doente do pé, rs.
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