quinta-feira, 26 de agosto de 2010

SOBRE CANETAS E PAREDES

Parece que há um magnetismo que atrai crianças com canetas às paredes, por mais que elas saibam e “entendam” que existem lugares certos para desenhar.

Pensando nisso, compramos uma lousa branca para que eles pudessem desenhar com suas canetinhas à vontade, numa superfície vertical tal qual uma parede, extravasando assim seus impulsos mirins de aprendiz de pichador.

Ao dar o presente, reforçamos que as paredes NÃO ERAM lugar de desenho e que toda e qualquer manifestação artística deveria ocorrer aí, na lousa.

Os dois entenderam direitinho, balançando a cabeça obedientemente enquanto esperavam impacientes pelo fim das explicações para, finalmente, poderem começar a desenhar.

Deixamos eles rabiscando alegremente e saímos da sala para assistir a um filme e, alguns minutos depois, com o efeito da novidade tendo passado, o Nick se juntou a nós.

Após um tempo, a Carla foi para a sala e ouvi ela exclamando:

“Nossa Tony! Que lindo! É a gente?”

Me levantei para ver o que ele havia desenhado e me deparei com um simpático desenho de uma família, com papai, mamãe e dois menininhos.

Enquanto a Carla elogiava o desenho, o Tony ficava de pé, uma mão na cintura e outra encostada na parede, uma pose meio cool e blasé, como tivesse plena consciência de seus incomensuráveis dotes de artista.

Mas algo no rosto dele quebrava a atmosfera “descolada” que ele tentava passar: uma vez a cada 2 ou 3 segundos, ele olhava desconcertado para a mão que estava na parede, como se estivesse tentando ver se alguma coisa que ele queria manter escondida estava visível.

Percebendo no ato o que havia acontecido, a Carla perguntou o que ele estava escondendo com a mão.

Ele olhou para ela com curiosidade por alguns instantes, contemplativo, e respondeu:

“O quê?”

Com isso, ele ganhava alguns segundos adicionais de vida para planejar uma improvável, mas não inteiramente impossível, fuga.

Mas a insistência da Carla o obrigou a finalmente ceder e revelar o que se escondia por trás da sua mão: um pequeno círculo em caneta vermelha na parede.

Fiquei pensando um pouco sobre a situação toda.

O fato dele ter escondido o risco na parede significa que ele SABIA que era algo errado e que a única forma que ele tinha de não levar bronca por isso seria esconder o desenho ETERNAMENTE.

Na teoria, isso até seria possível. Afinal, pais conscientes que somos, nunca deixaríamos que ele morresse de fome só por não poder se dirigir à mesa do jantar, por exemplo. Mas, se ele sabia que nós nunca poderíamos ver o desenho porque era errado ele ter feito na parede, PRA QUÊ FAZER?

Um comentário:

  1. Meu filho desenhou no sofá um monstro retorcido de boca aberta e dentes a mostra comendo um peixe que tenta fugir assustado. Ficou tão legal! Mandei trocar o tecido mas guardei esse pedaço. Nós combinamos dele nunca mais fazer isso e ele nunca mais fez. Mas acho saudável que façam... criança que não pinta parede ou é ruim da cabeça ou doente do pé, rs.

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