sábado, 4 de setembro de 2010

SE CASAR, NÃO CORRA

Dois amigos meus decidiram se casar e tiveram a ideia de usar os molex como pajens (nem sabia que existia este termo – sempre chamei de “daminhos”).

Alertei o casal de que os dois tinham apenas 4 anos e ainda não eram 100% controláveis, mas como os meninos sempre se portavam muito bem em eventos sociais e afins, foi impossível tirar a ideia da cabeça da noiva. Então, honrados pela escolha, mas um tanto preocupados, lá fomos nós para o ensaio.

O casamento era ao ar livre e o altar não havia sido montado ainda, o que nos obrigou a improvisar os detalhes da cerimônia no que era praticamente um gramado vazio.

E tudo correu muito bem, até porque o processo todo era simples: o Nick seguiria com a daminha de honra até o altar e esperaria lá. Depois, o Tony levaria as alianças numa almofada e, após a entrada da noiva, os dois estariam liberados para sair do altar discretamente – afinal, eles tinham só 4 anos e dificilmente conseguiriam ficar de pé quietinhos até o fim da cerimônia.

Realizado o ensaio, noivo e noiva estavam felizes e tranquilos. Eu e a Carla ainda achávamos que as coisas poderiam não ser tão perfeitas no casamento em si, mas até aí estávamos apenas sendo ARAUTOS DO APOCALIPSE, porque tudo havia corrido bem.

Então chegou o grande dia. Estávamos no local do casamento com 2 horas de antecedência e repassamos o procedimento todo com os molex, tantas vezes quanto possível. Aí veio a hora do casamento em si.

Com toda a pompa e circunstância, o noivo caminhou até o altar, seguido pelo Nick e pela daminha. Eu esperava com o Tony até o momento de “soltá-lo”, mas percebi que ele tinha um olhar vago no rosto, o que começou a me assustar um pouco.

No momento certo, gentilmente disse a ele que era a sua vez, ao qual ele respondeu simplesmente com:

“Ehm... não.”

Com meu desconforto rapidamente se transformando em PÂNICO, eu pedi de novo, mas ele parecia irredutível quanto à sua decisão de não caminhar até o altar.

Ele até deu alguns passos pelo caminho, mas de repente congelou, evidentemente aterrorizado pela quantidade de pessoas que o observavam atentamente.

Aí veio o ponto alto do cerimonial: o Nick, percebendo a gravidade da situação, desceu do altar e foi correndo até o irmão, abraçou-o calorosamente e pegou a almofada com as alianças para levar até o noivo.

Um “ooooooooooohhhhhhhhhnnnn” generalizado se formou e todos assistiam emocionados enquanto o Nick voltava correndo até o altar.

Imediatamente, todo meu pânico se converteu numa grande sensação de alívio e tranquilidade... mas mal desconfiava eu que a sensação voltaria a ser de pânico em breves instantes.

Ao entregar as alianças para o noivo, o Nick se virou e voltou correndo pelo corredor todo. Chegando ao final, deu meia-volta e voltou correndo até o altar, aparentemente maravilhado pela pista de corrida que havia descoberto. E ficou claro que ele não tinha planos de parar com a correria tão cedo.

Neste momento, a noiva entrou e começou a se dirigir até o altar. O Nick continuava correndo num vai-e-vem frenético, desviando dela enquanto eu e a Carla tentávamos pensar em como arrancá-lo de lá.

Durante algum tempo tentei a técnica de correr junto com o Nick, mas havia muita gente de pé assistindo à cerimônia e eu não conseguia me antecipar a ele. Além disso, o altar ficava encostado numa árvore centenária, o que me obrigava a praticamente trepar pelos galhos e raízes para me aproximar do local e, quando finalmente conseguia, o ligeiro garoto já estava correndo na direção oposta.

Com minha adrenalina e desespero atingindo níveis inimagináveis, decidi me infiltrar entre os convidados para tentar interceptar o Nick de surpresa pelo percurso.

Felizmente, deu certo. No que deve ter sido a 6ª ou 7ª passagem do Nick pelo corredor central, estiquei os braços de surpresa e o peguei, tal qual um grande crocodilo africano abocanhando um pobre gnu sedento na beira do lago.

Feito isso, o casamento pôde seguir seu curso normal e, depois, os noivos disseram ter achado o incidente memorável e divertidíssimo.

Só sei que, depois disso tudo, tanto a Carla quanto eu achamos MUITO JUSTA a possibilidade de tomar algumas doses a mais durante a festa.

Um comentário:

  1. HAHAHAHAHAHAHAHAHA
    Eu já tinha ouvido essa história algumas vezes, mas essa versão é imbatível!
    No final das contas deu tudo certo, o casamento foi lindo e a naturalidade dos molex deixou o ambiente descontraído e mais alegre - claro que não pra vcs, pais preocupados (demais!) com a harmonia da cerimônia. :)
    Eu, na qualidade de noiva deste casamento, adorei cada segundo e jamais abriria mão da ilustre presença dos filhos fofos e dos meus amigos queridos nesta ocasião.
    Adoro vcs!
    Muitos beijos.

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