
Outro dia, não foi diferente. Entrei pela sala e fiz o joguinho deles, passeando pela casa lentamente, chamando pelos dois e causando neles o que deve ter sido um suspense quase insuportável.
Tanto é que Tony não suportou a brincadeira por muito tempo e saltou de trás de um móvel gritando: “AHÁÁÁÁÁÁÁ!!!"
Fingi um susto de proporções Hollywoodianas, dei um abraço e fui até o quarto atrás do outro rapaz escondido.
Encontrei a Carla assistindo à televisão despretensiosamente com um grande e suspeito edredom jogado ao seu lado. O edredom se mexia ligeiramente e ria de forma contida, características não muito habituais deste tipo de cobertor.
A Carla então me disse, em alto e bom tom, que havia esquecido o Nick na casa da mãe dela, o que causou ainda mais movimentação no edredom.
Imediatamente, disse a ela que eu iria buscá-lo, me virei e fui rapidamente até a porta da cozinha.
Lá atrás, ouvi um: “Tô aqui! Ei!”, mas, para efeitos humorísticos, fingi que não havia escutado e saí do apartamento antes que o Nick pudesse me alcançar.
Rapidamente me ajoelhei no capacho, de frente para a porta, e fiquei esperando o garoto sair de casa, desesperado para evitar que eu fosse até a casa da minha sogra em vão.
Enquanto esperava pelos 5 segundos que o Nick levaria do quarto até a cozinha, ri baixinho imaginando a expressão no rosto dele ao abrir a porta e dar de cara comigo.
Mas os 5 segundos se transformaram em 10.
E depois em 20.
E depois uma vizinha saiu do elevador e me encontrou ajoelhado de cara para a minha própria porta e me deu um “Boa noite...” desconfortável, entrando no seu apartamento antes que eu pudesse explicar o que estava fazendo.
E quando finalmente percebi que não havia NENHUMA movimentação por trás da porta, me levantei e fui ver o que estava acontecendo.
Encontrei o Nick sentado na sala jogando videogame com o Tony, na maior paz e tranquilidade.
Em linhas gerais, isso significa que ele estava disposto a me deixar ir ATÉ A LAPA para buscá-lo de um lugar em que ele SABIA QUE NÃO ESTAVA.
Então agora vocês entendem porque eu olho com desdém para vocês cada vez que me dizem: “Ah... como seus filhos são bonzinhos!”