Apesar do mundo virtual e dos videogames, os jogos de tabuleiro ainda existem e, por incrível que pareça, exercem nas crianças de hoje a mesma magia daqueles sombrios tempos pré-Nintendo.
Um dos jogos chamava-se "Lince - Super-Heróis Marvel", algo de regras simples e rápido, mas que divertiu bastante a molecada.
O resultado deste jogo foi que o Nick DESTRUIU a gente com propriedade (a conta final foi 10 pra ele, 5 pro Tony e 4 pra mim), e não, eu não "deixei" ele ganhar - foi na base do talento mesmo.
Mas, ao jogar, lembrei de uma outra vez em que jogamos o famoso jogo da memória com eles, quando eram bem pequenos.
A gente jogava na mesa da sala e, cada vez que algum deles conseguia acertar um par, era uma festa como se eles tivessem ganho a Copa do Mundo.
Só que em determinado momento do jogo, comecei a notar duas coisas. Uma era que o Tony estava acertando quase tudo, e a outra era que ele tinha um estranho ritual antes de escolher suas cartas: ele tirava a primeira, olhava para ela com atenção e, lentamente se agachava, como que se encolhendo na cadeira.
Ele ficava assim durante alguns segundos, num estado de concentração total, e se levantava triunfante, escolhendo a carta certa com uma frequência que anulava a hipótese do acaso.
Era como se ele conseguisse enxergar através das cartas, o que me lembrou de um delicioso conto que eu havia lido como criança: "A Incrível História de Henry Sugar", do genial escritor galês Roald Dahl.
No conto, o tal Henry Sugar aprende uma técnica de concentração que o permite conseguir ver através das cartas e fazer fortuna nos cassinos. A história é maravilhosa e a ideia de ter um filho com visão raio-X é melhor que ganhar na Mega Sena, mas eu achei que seria uma boa ideia tentar racionalizar o ocorrido antes de dar um pé na bunda do meu emprego.
E ao prestar atenção no ritual todo do menininho, percebi que o tampo da mesa da sala era de vidro e tinha meio centímetro de espessura.
A medida é relevante porque o Tony, aos 2 anos de idade, havia sacado o princípio básico da reflexão da luz ao perceber que, em determinado ângulo, ele conseguia ver projetado na mesa o reflexo da carta que estava na superfície do vidro.
Ou seja, ele VIA a cor das cartas por causa no reflexo que ela fazia e acertava tudo.
Foi a última vez que jogamos sem uma toalha de mesa.
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