Passamos minha última semana de férias em Ubatuba, na incrivelmente aconchegante casa dos tios da Carla.
Tendo que voltar ao trabalho na segunda, dia 24 de janeiro (o dia 25 era um feriado, mas não emendamos), achei justo que os molex e a Carla tivessem a chance de aproveitar mais um dia de piscina, praia e sol, então decidi voltar para São Paulo antes deles.
Chegando a hora da minha partida, os dois se jogavam alegremente na piscina enquanto eu arrumava minhas malas, com o coração partido.
Cheguei até a beira da piscina e chamei meus filhos para a dolorosa despedida e ambos olharam para mim, inicialmente confusos e, depois de um instante com os olhos arregalados por terem se dado conta da importância daquele momento.
Os dois subiram para fora da piscina e eu me agachei para abraçá-los, sabendo que o momento provavelmente estava sendo tão duro para eles quanto para mim.
E aí os dois pararam a meio metro de mim e me disseram:
"Já que você vai pra São Paulo, você pode comprar uns jogos pro nosso Playstation?"
Os dois começaram a discutir entre si quais os jogos mais interessantes, até que eu os interrompi:
"Ei! Estou indo embora não para comprar jogos! Estou indo só porque tenho que trabalhar! Vou chegar tarde em casa e amanhã estarei no escritório o dia todo!"
Eles fingiram entender o momento emotivo, me deram um abraço molhado e se jogaram de novo na piscina enquanto eu encarava a longa e tortuosa viagem para casa.
Ao chegar, exausto, liguei para a Carla e não obtive resposta. Insisti durante algum tempo, mas só consegui estabelecer o contato horas depois, quando ela me ligou a quase uma da manhã.
Ela me informou que o Nick havia se queixado de fortes dores no ouvido e que todos tinham passado algumas horas no pronto-socorro de Ubatuba até que o pobre rapaz fosse devidamente medicado.
Ao me certificar com ela de que tudo estava bem, pedi para dar boa noite aos dois. O Nick, mesmo debilitado pelo suplício da otite, foi solícito e me desejou boa noite.
Aí o Tony ficou na linha e, ao pegar o telefone, me perguntou logo de cara se eu havia comprado os jogos que ele tinha solicitado.
Expliquei que não, porque a viagem havia sido longa e que já era mais que meia-noite, hora em que todas as lojas estavam fechadas, e ele imediatamente me respondeu, num tom um tanto quanto sarcástico:
"Estranho... sabe que nós estávamos no centro de Ubatuba agora pouco e estava TUDO ABERTO?"
Ou seja, não bastava eu ter cortado minhas férias com a família, viajado sozinho até São Paulo, pedido uma pizza meia-boca só para tapear a fome e me preparado para ir dormir melancólico, sabendo que eu teria que trabalhar numa segunda-véspera-de-feriado enquanto o resto da minha família estaria rolando na areia da praia.
Eu ainda teria que ir para a cama sabendo que meus filhos achavam que eu estava fazendo um BAITA CORPO MOLE por não ter ido atrás dos seus joguinhos de PS2 em plena madrugada de domingo.
E sabem qual é a coisa mais IMBECIL disso tudo?
É que eu realmente fui dormir me sentindo CULPADO!