Não são brinquedos e, logo, não tem porque as crianças quererem brincar com eles. Mas entendo que meninos são meninos e a tentação é grande.
Felizmente, ambos respeitam a restrição com disciplina exemplar, o que não os impede de procurar por formas de burlar a norma, como por exemplo essa tentativa do Nick:
"Daddy? Can we play with the cars only a little bit?"
"Hm... no."
"OK... but DÁ VONTADE..."
Aí um dia o Tony, após uma minuciosa vistoria na coleção, foi até o quarto em que eu estava e me disse que queria brincar com o carro do Schumacher, que era dele.
Na hora, lembrei que tínhamos jogado Fórmula-1 no computador e que ele havia assumido o carro do Schumacher, uma Benetton. Imaginei que ele havia encontrado o modelo do carro que tinha pilotado no joguinho e queria brincar com ele.
Em tom gentil, disse que não, que aquilo não era brinquedo e que ele sabia disso.
Ele insistiu, dizendo que era dele o carro, e eu fui firme, insistindo que não.
O garoto saiu vermelho de raiva e, depois de um tempo, entrou a Carla no quarto, segurando a risada e me informando que o Nick, em defesa do irmão, havia instruído-a a:
"Vai lá, Mamãe! Mas vai com cara de muito brava. E fala muito brava com ele! E depois dá uns tapas nele até ele deixar brincar! Vai!"
Ela não fez o que o garoto pediu, mas me disse que ele estava chateado porque um dos carrinhos que estavam expostos era do Tony, e não meu - uma Ferrari do Schumacher que minha cunhada havia dado para ele há anos.
Fui até a sala ver e confirmei a gafe - lá estavam duas Ferrari do Schumacher, idênticas. Uma a minha e outra a dele, que estava lá dentro indevidamente.
Pedindo desculpas, dei ao rapaz o carrinho dele, assumindo que o erro havia sido meu. Os garotos sorriram felizes, mas continuavam olhando para mim, como se esperando por algo a mais.
Fui perguntar o que eles estavam olhando quando de repente vi a Carla piscando para os dois. E aí ela começou a me encher de tapas, para o delírio e alegria de ambos, que gargalhavam sonoramente enquanto eu era esbofeteado para fora da sala.
É como dizem: não basta ser pai - é preciso ser surrado pela esposa na frente dos filhos de vez em quando.